quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

... fazia pobres!!!...


... e o barco ia e vinha,
espelhado no horizonte,
mesmo ali, defronte,
o vento agitava o estendal da vizinha,
naquela casa, tão humilde, pobrezinha,
plantada no areal,
uma, entre tantas, tão igual,

feita com latões, restos, tábuas,
com jardim rodeado por tabuinhas,
como a da Mariquinhas,
quando, encantada, ouvia o Marceneiro,
logo pela manhã, no dia inteiro,
tagarelando com a vizinha,
sobre a roupa no estendal,
junto ao rio, estrada fluvial,

e o barco ia e vinha,
a roupa secava no estendal,
colorida, bem batida,
com vento de feição, seco e forte,
paisagem linda, tão rica,
cidade ao fundo, para lá do rio,
espelhante,
ritmo constante,

numa humildade degradante,
casinhas de tabuinhas,
chapas, oleados, restos,
encostos, pregos,
tijolos retirados de obras,
algumas sobras,

chapados, empilhados,
telhados,
refúgios, em terrenos de ninguém,
de quem não tem,
geminadas, barracas tão iguais,
penúrias de vegetais
como tantos mais,

agarradas naquele recanto,
companhias tão vizinhas,
tão Mariquinhas,
tão tabuinhas,
tão humildes, pobrezinhas,

com estendal mesmo defronte,
espelhado no horizonte,
pão e vinho sobre a mesa,
sem porta, sem janelas,
convidado permanente,
mesmo em frente,
vento de feição secava roupa no estendal,
entrava, saía por frestas,
tão abertas,

tugúrio que era refúgio
gente que falava, ria,
olhava para o barco que ia e vinha,
tão vizinha,
tão pobrezinha,

cuidado esmerado com roupa que secava,
conversa à toa,
mesmo em frente de Lisboa,
tão humilde,
vento de feição para o estendal,
quando forte, trapejava,
era motivo de conversa, satisfação,
roupa que secava,
colorida,
com esmero, tão estendida,

na barraca de praia, mero recanto,
refúgio que era casinha,
com vizinha,
o barco ia e vinha,
mesmo defronte,
espelhada no horizonte,
uma ponte,

tão Mariquinha,
tão fado, tão pobrezinha,
chapas de latão, tábuas, restos,
com jardim, vento de feição,
triste condição,
tão vegetação,
tão degradante,
sem porta, sem janelas,
pão e vinho sobre a mesa,
tão tagarela,
tão como ela,
tão vizinha,
tão aberta,
entrava pela fresta,

soprava,
convidado permanente,
sempre presente,
vento que secava, no estendal,
tão igual,
roupa colorida que trapejava,
conversa à toa,
mesmo ali, pertinho de Lisboa,
ali vivia, ali estava,
conversava,
tão trivial,
vegetava,

no Palácio, gente diferente,
promulgava,
fazia pobres, com esmero,
secava,
fazia frete, com ferrete,
mesmo em frente,
fazia barracas, com estendal,
tão Mariquinhas,
tão vizinhas,
vento de feição,
intervenção,
que sensação, pouco normal,
consensual,

e o barco ia e vinha, mesmo defronte,
no horizonte,
quase esfumada, depois da ponte,
conversa à toa, gente estouvada,
ventanias fortes,
ali, em Lisboa, fazia pobres,
fazia nada, barracas no areal,
roupitas no estendal,
tão Mariquinhas,
tão tabuinhas,
tão vizinhas, tão fados do Marceneiro,
a tempo inteiro!!!... Sherpas!!!...

Sem comentários: