segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

... as godas com... o "DIABO"!!!...

... conto de... (antiga)




…contos de… Natal???... Porque não!!!... Está na época, está na moda… fica bem!!!... Não há jornal, não há rádio… nem televisão que, não os publique, os edite!!!... Os contos sempre fizeram sonhar, miúdos e graúdos, sempre deram alguma ilusão, um sentir bem, tremenda satisfação!!!... Vai daí… entraram na berra, chegaram, a outras esferas, às mais elevadas… às do mundo das letras e das artes!!!... Não há elemento escrevinhador que se preze… neste nosso Portugal, e não só, por toda a parte que… levado pela emoção, pelo lado bom, se não ponha a inventar uma situação, um conto… com bruxas, com fadas, com demónios, com coitadinhos, situações complicadas e complexas, de arrebatar, de fazer chorar, desde o meio, quase… até ao fim, onde, por artes mágicas, por boas vontades, se consegue, afinal, naquele reino, naquele vale, naquela aldeiazinha, naquela cidade empedernida e dura, naquele tempo, noutra era, num Mundo muito diferente, longínquo… fazer justiça, acabar com o mal, levar a verdade de vencida, compensar os pobres coitados, terminar a estória com sorrisos e promessas… para sempre, felizes e contentes!!!...

…recordo, com saudade… os contos que ouvi, em criança, que me preencheram os sonhos, que me deram alento, que me ajudaram na formação pessoal, que me prenharam a imaginação, que me dotaram de aversão tamanha aos bruxos e às bruxas, aos demónios, aos malvados, aos prepotentes e calculistas, tal como… ao invés, embora… com uma quantidade razoável de anitos em cima, continue a acreditar na vitória do bem, contra o mal, em utopias, em fantasias, em fadas boas, em cavaleiros andantes, em heróis… no bom da vida, inocentemente, tal como dantes!!!...

…claro que não vou falar de cavalos azuis, de elefantes com asas… nas orelhas, voadores, de magias, de feiticeiros, de encantamentos em castelos, em palácios, de duendes, de gnomos… de zombies, criaturas medonhas, inverosímeis, inexistentes, para assustar, para espantar, para encantar, causar sonhos doces e bons, pesadelos de aterrorizar!!!... Claro que não!!!... Antes, pelo contrário, um conto normal, vulgar, de gentes como nós, sem mais, sem menos… com complicações, com vidas correntes, com sentimentos, com sofrimentos, com alegrias, com tristezas!!!...

… levado pela época, como mais um… coração de manteiga, não resisto, claro… tento acompanhar a leva, a marcha, tenho de a contar… uma estória, um conto, como outro qualquer, com malvados, com vítimas, com boa gente… com recompensa e castigo finais, respectivamente, é evidente!!!... Todos começam da mesma maneira:

- Era uma vez… numa terra pequenina, com poucas casas, com pouca gente… junto a um rio, formoso e belo, de águas mansas, quase paradas, languidamente esparsas, com barquinhos de vários tamanhos e feitios, uns que subiam, outros que desciam, coloridos, repletos de gentes, contentes, alegres, divertidas, fazendo adeus, quando passavam, para as populações das margens, dessa terrinha e doutras, parecidas… uma menina, pequenina que, tal como outros e outras, da mesma idade, por ali brincavam, regalavam suas vistas, agitavam suas mãos, correspondendo aos cumprimentos, pulando, saltitando, de satisfeitos!!!... Plena emoção… enorme contentamento!!!... O dia ia passando e… a criancinha, rodeada por altos montes, escarpados, verdejantes, tanto dum lado, como do outro… do dito rio, continuava brincando com os companheiros e amigos, fazendo adeus para os barcos que passavam, saltitando!!!...

… a referida, vivia com o pai e com a mãe… operários numa fábrica de calçado, afastada daquele sítio a quem, só via, logo pela madrugada e, no final do dia… quando a levavam, ainda adormecida, ao colo, para casa da avó, à beirinha daquele rio, encantado, maravilhoso, moldura enorme, pintura de sonho, enquadrado por aqueles montes com… degraus de gigantes, carregados de verdes, por vezes… mais escurecidos, acastanhados, consoante a altura do ano!!!... Já tinha reparado nisso, embora pequena, com pouco entendimento!!!... Ainda não andava à escola e… a sua mestra, senhora de idade avançada, mãe da sua mãe, era compreensiva, adorava a sua pequenina, fazia-lhe todas as vontades, enchia-a de mimos e carinhos!!!... Vivia feliz… ainda mais, com os companheiros de brincadeira, com o rio, com os barcos… que subiam ou desciam, aquele rio deslumbrante, com os saltitos que dava… enquanto gritava, fazia adeus àquelas pessoas, contentes e satisfeitas que… quando passavam, as saudavam!!!... No final da jornada, cansada, meio a dormir, meio acordada, ao colo… lá ia ela, de novo, de volta a casa dos pais, quando estes regressavam, cansados da tarefa, do trabalho que faziam, na tal fábrica de calçado, mais para o interior, mais afastada daquela maravilha, daquele espelho alongado e serpenteante, doirado… quando o sol lhe batia, mais acinzentado, quando chovia!!!...

…rendida, morta de cansaço, dormia… quando chegada ao lar!!!... No dia seguinte, como rotina… doce e bela, sem agitação alguma, sem intromissão, a estória… repetia-se, inalterada, dia após dia!!!... Vivia feliz e… contente, como gente pequena, merecedora!!!... Um encanto, uma maravilha!!!...

…houve um dia que, ficou pensativa, cabisbaixa, contristada mas, pelo sim, pelo não… não disse nada!!!... Foi estranho… foi diferente!!!... Os pais acordaram mais tarde, mal dispostos, deixaram-na deitada… falavam em surdina, um com o outro, sentados, de pé, saindo e entrando de casa, estavam diferentes!!!... Pareciam outros!!!... Ela, na sua santa inocência, quieta, no aconchego da cama… encolhida, pensava e tornava a pensar e, por mais que puxasse pela cabeça… não encontrava resposta às muitas perguntas que se fazia, a ela própria!!!... Porque razão, naquele dia… não ia, como sempre, para casa da avó, meio a dormir, meio acordada???... Porque razão não ia brincar com os seus amigos, os de todos os dias???... Porque razão não ia fazer adeus aos barcos que passavam???... Porque razão não ia para junto daquele amigo doirado e serpenteante, junto do qual brincava… o rio???... Porque razão não se ia deslumbrar com aqueles cabeços enormes, verdes e viçosos, degraus enormes de gigantes???... Porque razão os pais falavam, como falavam, estavam em casa, entravam e saíam… com ar de aborrecidos, quase zangados???...

…os dias foram passando e… aos poucos, foi-se apercebendo do que tinha acontecido!!!... A fábrica onde os pais trabalhavam, desde sempre… tinha falido, segundo tinha ouvido, pouco sabendo o que eles queriam dizer com isso, com o falido!!!... Certo, certinho… é que a sua vida, deu uma reviravolta grande!!!... Que saudades tinha das brincadeiras, das idas e das vindas, ainda, ou já… dormida, da casa da sua avó, do rio, das brincadeiras, dos adeus, dos companheiros, da alegria dos pais, agora… tristonhos, preocupados, em casa ou… entrando e saindo, por vezes, mal dispostos!!!... Quando pedia alguma coisa, tal como fazia antigamente… normalmente, ouvia um não rotundo e seco, dado pelo pai, dado pela mãe!!!... Estranhava mas… aceitava, como boa filha que era, pequena ainda!!!...

…o tempo foi passando e, lá em casa… foi reparando que, iam faltando coisas a que estava habituada, tanto em casa dela, aos fins-de-semana, como em casa da avó!!!... Que saudade tinha da avó, do rio, dos barcos, do adeus daquelas pessoas que passavam, quando subiam quando desciam, dentro dos barquinhos coloridos, contentes e satisfeitos… dos montes verdinhos e altos, dos amigos de brincadeiras!!!... Os pais tornaram-se mais irritadiços, pouco falavam, em casa ou… saindo e entrando, constantemente!!!... Tão diferentes que eles estavam!!!... Não pareciam os mesmos!!!...

…houve uma altura que… de repente, se encontrou em casa da avó, outra vez!!!... Segundo ouviu os pais, era para ficar uma temporada mais alargada!!!... Continuou vendo, enquanto brincava, junto ao rio… os barcos coloridos, quando passavam carregados de gentes que faziam adeus!!!... Ela olhava mas… já não correspondia!!!... Começou a andar preocupada!!!... Já não via os pais… há muito tempo e, a sua permanência em casa da avó, tornou-se efectiva, permanente!!!... Foi crescendo…foi pensando e… não encontrava resposta para aquela situação!!!... Entristecia… a olhos vistos!!!... A sua avó, a dos mimos, a dos carinhos… também preocupada, pouco falava!!!... Ela sentia-se triste!!!... Não sabia bem… porquê???... Vezes por outras… a avó, recebia umas cartas e, pelo rosto… perpassavam-lhe assomos de preocupação, de aflição!!!... Já a tinha encontrado, sentada a um canto, chorando… baixinho!!!... Quando a via aproximar-se, disfarçava… como se nada!!!...

… a vida da menina modificou-se, ensombrou-se!!!... Começou a surgir uma certa penúria, falta de coisas na casa… onde, outrora, nada ou pouco faltava, na da avó!!!... Nunca mais tinha ido para casa dos pais!!!... Tão pouco sabia… o que era feito deles!!!... Ela, sentia-se mal… brincava, pouco ou nada, com os amigos, já não achava graça nenhuma ao rio, aos campos altaneiros, os das margens carregadinhos de vinhas, de vinhedos, nem aos barcos, nem às pessoas que faziam adeus!!!... Começou a andar entristecida… também!!!...

…foi uma época muito difícil para todos, foi crescendo, foi endurecendo, foi achando pouca graça a coisas que… há uns tempos atrás, tanto a satisfaziam!!!... A avó, com os desgostos… foi envelhecendo, mais e mais!!!... Cartas que se enviavam, cartas que se recebiam… uma fartura de tristezas!!!... Até que…um dia, estando ela pertinho de casa da sua avó, a ouviu dar um grito, um Graças a Deus, um riso… plena satisfação!!!... Um chamamento, uma corridinha, uns braços sôfregos e fortes que a abraçaram, muitos beijos, uma imensidão deles… juntos, com lágrimas de emoção, um arrebatamento, um encanto!!!... Tão bem se sentiu… meu Deus!!!...

…mais tarde… tomei conhecimento, soube o que se tinha passado… mais crescida, já não criança!!!... Soube o que era uma falência, soube o que foram as horas aflitivas dos meus pais e da minha avó, as penúrias que passaram, os sacrifícios que fizeram, a procura intensa e aflitiva, por outras terras, bem longínquas da minha, daquele rio de encantamento… em busca do que tinham perdido, de trabalho!!!... Os desencantos foram muitos, as contradições… mais que abundantes, os sacrifícios… imensos, até que… se deu o esperado, o desejado!!!...

…e, logo agora… por alturas do Natal!!!... Ela até tinha pensado pedir, ao Pai Natal, um computador mas… não se atrevia, sequer!!!... Ficou compensada com a situação dos seus pais, já com emprego, mais normalizados… como antes!!!... E, como se fosse obra de milagre… não é que, com as suas actividades, as actuais, iam morar pertinho do tal rio, uns quilómetros mais para cima, o tal das águas doiradas, quando o sol se reflectia nelas, mais acinzentadas… em dias de chuva, emparedado, em ambos os lados, por vinhas… naqueles degraus gigantes, verdes ou acastanhadas, consoante a época do ano, claro!!!... Com que emotividade, tornaria a fazer adeus… como em tempos, quando mais nova, mais criança, às pessoas sorridentes e efusivas que… sobem ou descem o rio, naqueles barcos coloridos, cumprimentando os que estão, os que vivem nas terrinhas, pequenas ou grandes… nas margens deste rio encantado, colorido… amor dos seus amores, companheiro de toda uma vida, dos seus, dela… também!!!...

…e… foram felizes, para sempre!!!...

…teria sido, será… mais um conto de Natal???... Quiçá!!!... Abraços do Sherpas!!!...


... calcorreando!!!...




… fui, calcorreei caminhos, calçadas,
contornei muralhas, fossos, pontes levadiças,
passei por casas velhas, fortes, apalaçadas,
por outras, mais humildes, bem velhinhas,
com séculos de existência, mantidas,
algumas brasonadas, com escudos, com armas,
memórias dos nossos inícios, princípios,
de quando nos firmávamos como Nação,
numa Monarquia absoluta, dissoluta,
com classes, ignorância, com guerras,
num clero obscuro, nobreza altiva,
povo ignorado, desprezado sem razão,
massa anónima, rebanho de ímpios,
sob o jugo de seus donos, senhores das terras,
mandantes e orientadores da religião,
em convento que se cativa, que abriga,
refúgio de padres, freiras, frades,
sem objectivos, era de incertezas,
que tempos… que contrastes,
que construções, que fortalezas!!!...

… orgulho me dão, algum,
passados que são, séculos e séculos,
ruminando pensamentos,
calcorreando caminhos,
pedras antigas, gastas, rasas,
casas com brasão, apalaçadas,
claustros, colunas… um átrio,
balaustradas, cornucópias, capitéis,
gárgulas medonhas,
com as… que nem sonhas,
no interior, no aspecto, nos eventos,
quantos acontecimentos,
quanta arte grosseira, gótica, românica,
na arquitectura que me troca, engana,
modesto visitante, visionário,
que se encanta, que passeia, olha,
quando gosta, desgosta… pensa,
quando intenta, quando se recreia,
quando se isenta, se afasta, contesta,
já não protesta,
tempos idos, mais que findos,
penumbras, sombras espessas,
tão afastadas, tão densas,
calcorreando sítios, caminhos,
por entre muralhas, castelos, fossas,
memórias nossas,
pedras seculares, tumulares,
esforços de toda uma plebe,
a que se esquece!!!...


… a que permanece sujeita, contrafeita,
sem haveres, sem lares,
mão de obra barata, ao tempo,
tapete almofadado do situado,
tanto agora, como dantes,
povo do meu encanto,
quando… o canto,
quando o enalteço,
quando lhe agradeço,
suores, sofrimentos,
seculares, em tempos de Monarquia,
quanta sanha, quanta raiva,
incontidas,
tão caladas, sonegadas… escondidas!!!...

… quando calcorreio pedras, caminhos,
contorno muralhas, admiro colunas, capitéis,
passo por pontes levadiças, admiro muralhas,
levanto meus olhos ávidos, escarninhos,
denotando respeito pelos cinzéis,
pelos artífices de várias artes,
vindo de todas as partes,
esforço conjunto, como trabalhas,
povo anónimo, águas passadas,
amálgama sofrida, mal paga,
que tudo fizestes, construístes,
sempre pobres, sempre tristes,
se memória se consente,
contigo… sempre presente!!!... Sherpas!!!...