... já me tinha sentado naquele banco,
pelo mesmo motivo, esperando,
naquele largo sossegado, pequeno,
igreja velha, pejada, ladainha que soa,
enquanto a missa avança, repetitiva,
quanta rotina, a minha, a reza que entoa,
passa mas... não pára,
que silêncio, quando me apercebo,
reconheço prédio com janela no sótão,
recordo figura de pessoa idosa, sorridente,
mesmo em frente,
debruçada,
que, agora não me cativa,
bandos de pombos esfomeados, miolos de pão,
quando viva,
chamamento,
do telhado para o chão,
eram muitos, clara empatia,
eu via,
no peitoril, no braço, na mão,
sentado naquele banco,
no mesmo largo, esperando,
enquanto a missa decorria, repetitiva,
rotina de domingo, outra vida,
ladainha de quem predica,
reza de quem segue, professa,
espera de quem acompanha,
não pratica,
o tempo passa, o tempo marca,
o tempo apaga,
já não vejo o que vi,
lembrando, quando me introverto,
ali, bem perto, janelinha lá no cimo,
pessoa debruçada, sorriso aberto,
chamando com meigas palavras,
sussurrantes,
alguns anos antes,
caindo, em catadupa, do telhado para o chão,
por um miolinho de pão,
pomba branca, pomba branca
que encanta,
poisando no peitoril, no braço, na mão,
que satisfação,
velha igreja da povoação,
recato de quem entra, de quem comunga,
aprofunda,
de quem segue, de quem se entrega,
de quem acredita,
local de oração,
pessoa idosa, com sua vozita, chama,
olha em redor, fixa azul claro do Céu,
pedaço reduzido que se lobriga,
companhia amiga,
aves que a visitam,
contentes, pequeno grupo, encontro,
naquele largo, naquele ponto,
não foi sonho, foi passado,
quando, recuando, ali estive sentado,
no mesmo banco,
esperando,
dado a pensamentos,
quando reencontro certos locais,
quando recordo pessoas que me tocaram,
por gestos, atitudes espontâneas,
sorrisos perfeitos de quem se encontra bem,
palavras doces que têm,
tratamento com outros seres,
carinhos que prodigalizam,
afagos que dão,
momentos,
troca intensa de afecto,
mais racionais,
tão iguais
a todos os animais,
aos mais dilectos,
indefesos, compreensivos,
amigos dos amigos,
harmonia tão natural,
fujo do anormal, do abjecto,
quando novo, quando velho,
naquela janela, naquele largo,
lá em cima,
agora pejada de vasos com flores,
nota-se a ausência,
já não poisam pombos no largo,
bandos que vinham dos ares,
caíam, em catadupa, do telhado,
buscando palavras doces,
pedacitos de pão,
na igreja, a oração,
no banco, como espectador, estava eu,
acabou, morreu,
mais solitário, quase ninguém passa,
queda a recordação,
mais atrevidos, sem medo,
entrega, dádiva, segredo,
entendimento perfeito,
à mesma hora
da missa, da oração,
acabou, foi-se embora,
pessoa velha, satisfeita,
pombinha amiga, companheira,
imagem que prevalece,
não esquece,
lembro, sentado naquele banco,
esperando, esperando... Sherpas!!!...