terça-feira, 13 de dezembro de 2016

... simples charneira encantatória...

... jovem, reverdecida no topo, quanta barba branca acinzentada,
caída...
estado que não me consola, interroga,
árvore exótica, decorativa, desprotegida,
mal tratada,

obrigação de quem tem, quem deveria cuidar, barba feita,
espigada no alto, jovem, bela, airosa,
mais formosa...

isto de “possuir” e não cuidar, faz-me pensar, entristecido, quando noto,
quando vejo... tempo morto,
funcionário não afecto, depenicando relvado,
não olhando para o alto,

cá por baixo, falhas tantas, obras belas de nascença,
meu juízo, minha crença...
ror de tempo, inclemência, uso devido, desgaste,
incúria de quem não trata, de quem não tem,
certamente reparaste...

bonito papel, projecto, ainda jovem, vigoroso,
adolescência, fora d´época...
sem arrebites no cabelo, pelos outros, grande afecto,
sem pinturas extravagantes,

por descuido, negligência, incúria por sua figura,
rebeldia, tique, mania... cabelos feitos num cacho,
assim o penso, assim o acho,

triste figura, exigência, num montão desvairado,
como ondulação do mar...
quando venta, temporal, queda extemporâneo, fica mal,
necessita algum reparo, tesoura, aparadela ou corte, barbearia, cabelereiro,
gasto d´algum dinheiro,

melhor aspecto, apresentação, vai ao salão,
ao salão...
vigoroso, ainda esbelto,

enaltece amor-próprio, não te transformes, não sejas opróbio,
como quando te deformas...
quando comes, não comes, criando volumes, formas,
aumentas com silicones,

desbastas com cirurgia, provocas falsa alegria,
impões uma fantasia...
disfarças, por querer, individualidade,
teu ser, norma, novidade,

por vontade, como cônscio, como gente... descuidas teu aspecto,
enfeitas teu esqueleto,
saco informe, pele q´estica, q´encolhe, reduz,
induz, não dependente, quase reluz...

claro que, respeitando, ideias muito minhas, todos os seres,
todos os campos, certezas quase absolutas,
minudências, interstícios, imperceptíveis aos que se julgam,
criação de toda, qualquer espécie... vidas ínfimas, enormes,
vegetalinas, faunísticas,
florísticas,
geológicas
quando inermes, nem imaginas...

poeira do que foi, deixou de ser, dependentes,
circunstâncias diversas...
cataclismos, elementos em fúria, erosão,
esmagamento, calor terrífico, abrasão,
genes tão diferentes,
partículas diminutas, eclosão,

apertão, vastidão, crescimento desmedido,
natureza... ente sofrido,
compressão,
alimento, benemerância, entrega, sofreguidão,
espalhamento, refeição,

ciclos contínuos, exaustão dos que, como companheiros,
nesta viagem alucinante...
não são de ninguém,
mesmo de quem os tem,

necessitam cuidados, atenção constante,
tratamento adequado...
consoante,
conforme,
de quem os trata, de quem os come,

não despreza, não maltrata,
respeita...
apara, colhe, enfeita,
cuida, alimenta,
prodigaliza para, mais tarde, receber,
podem crer...

intrínsica condição, cadeia tão apertada que nos une,
sem exploração...
mais um, entre tantos, poucos, grandes enganos,
quando nos consideramos
o que não somos,
tão poucos, tão loucos,

perdulários excessivos... tão activos,
na destruição, fruição do que nos sustem,
sendo ninguém,

nesta maravilha que aconteceu, logo após o “ BIG BANG”
local privilegiado...
tão devastado pela fera primeira,
na sua encantatória charneira,
simples gonzo d´imensa porta que nos suporta...  Sherpas!!!...