... visitei Versalhes, em França,
palácio que nos ofusca, delapidado,
logo após a revolução,
mantendo grandiosidade, ostentação,
jardim imenso que dança,
águas ao som de música clássica
que nos emudece,
paz celestial que delicia,
bocado que tenho guardado,
de tão apreciado,
não esquece,
repeti, mais tarde, por duas ou três vezes,
sem cansaço, com o mesmo gosto,
ouvi estórias várias dos últimos moradores,
sem favores,
realidade de outrora, grande império,
rei que, de tanto brilhar, o apelidavam de SOL,
criatura soturna, alguns passatempos,
caça, amigos, roupagens de espanto,
cabeleiras polvilhadas de pó branco,
devaneios no sétimo CÉU,
mulher jovem, bela, viva, natureza plena,
pobre da Antonieta,
sua CORTE, dependente,
quanto sorriso, quanta gente,
salão nobre, comezaina,
saltos, perseguições, diversão,
jogos diversos,
passeios por amplo jardim,
esconderijos, labirintos,
beijos trocados, promessas,
olhos travessos das damas,
cavalheiro que se aproveita,
cheirinho de rapé,
espirro que dá satisfação,
recanto de caçarias, opulento palácio,
estadia, centro principal da majestade,
bem longe da ralé, população,
Paris da miséria em catadupa,
controvérsia, aversão,
corria o dia, corria a semana,
corria o ano que engana,
aumentava o disparate,
futilidade,
luxos em demasia,
abundância para os que estão perto,
causa rumores, desacerto,
provoca fome a todo um POVO,
em Versalhes, nada de novo,
simples parecer, conversa,
logo esquecida, de seguida,
um que outro dizer,
entre camas com dossel,
orgias que se prolongavam,
excesso de ambos os sexos,
libações sem contenção,
tanto oiro na parede,
pinturas, ornamentação,
pinturas, ornamentação,
quanto mobiliário requintado,
diamantes raros, safiras,
quantos ditos, quantas iras,
quantas raivas, em segredo,
gargalhadas tão descuidadas,
ganhos, perdas, arrecadas,
coberturas de sedas e damasco,
tapeçarias vistosas, raras,
vestido tufado, espavento,
cabeleiras caprichosas ao vento,
sensaboria da boa vida,
num guinchar, numa corrida,
bem longe do que se sabia,
escumalha que não comia,
num “glamour” despropositado,
contraste inusitado,
num falsear da verdade,
“se não têm pão,
comam brioches”
Antonieta, sem razão,
palácios, jardins, coches,
rei SOL no seu alazão,
relatando caçaria, perseguição,
javali que prostra no chão,
eram amantes deles, delas,
dos seus,
corte de apalermados,
dedicada aos seus cuidados,
quantas criadas, criados,
luxúria em desvario,
rainha jovem, bela,
quase, quase uma donzela.
mal amada pelo SOL,
caprichos, devaneios,
seus quereres, seus recreios,
mundo fútil, tão oco,
entorno afastado do TODO,
cresceu fúria, surgiu raiva,
revoltou-se uma FRANÇA inteira,
monarquia que estremece,
medos de todo o tamanho,
presos fora da Bastilha,
outros hóspedes, reviravolta,
cólera que se dimensiona,
ululantes, pedem cabeças,
sangue como ribeira,
como vedeta, guilhotina nas TULHERIAS,
vozearias
contra reis, nobreza,
tendo uma só certeza,
apear quem esteve de pé,
escolher maneira diferente,
gente que fosse gente,
gente que se preocupasse com a gente,
decepando SOL, Antonieta,
CORTE das contradanças,
cadeia da opressão que derrubam,
não fica pedra sobre pedra,
apagamento total, recordação,
sempre em acção,
no momento, logo após a revolução,
na continuidade, sem parar,
matar, sempre a matar,
reconciliação,
até chegar aos pilares fundamentais
duma justa sociedade,
ilusão,
liberdade, igualdade, fraternidade,
foi luz, uma esperança,
farol daquela época,
marcou ciclo novo, caminho futuro,
vida nova, outro rumo,
interrogação tão pertinente,
males que se arrastam,
reza a história, cronistas, testemunhos,
ficcionistas notabilíssimos,
palavras escritas belas, famosas,
cantadas, tão clamorosas,
exemplos que nos arrastam, encantam,
quando ditas, quando clamam,
não se aprende com a HISTÓRIA,
pessoas esquecem, quando são,
adquirem posição de topo,
lembram-se deles, esquecem de novo,
repetem males passados,
pilares da revolução,
dão sacos com algum pão,
alimentos básicos, pois então,
olvidam leis, CONSTITUIÇÃO,
colocam de lado, os cravos,
em palácios, bem instalados,
tratando de seus interesses,
mordomias, benesses,
corporações,
quantos e quantos milhões,
mais olhos do que barriga,
ganância que ultrapassa tudo,
quase fora deste MUNDO,
enfrentando, fazendo briga,
entre pobre, quem enrica,
esquecendo a... GUILHOTINA!!!... Sherpas!!!...