... tempos houve que, uma simples sopa,
para mim, toque de magia,
quase milagre,
menino e moço, já crescidote,
adolescente,
a partir da boca,
quando degustava,
pouco mais, saboreava,
que bem me sabia,
um zero, na arte da culinária,
não avaliava, sequer,
trabalho da mulher que me pariu,
mãe adorada,
que muito me deu, ainda não partiu,
quase bebé, pela provecta idade,
ainda recorda, lúcida, como se quer,
grande mulher,
cheiros que me seduziam,
evolavam,
na saudosa cozinha
onde, dando os primeiros passos,
assistia a programas da televisão,
comilão,
não tanto da comida,
mais, da informação,
todo um MUNDO que s´abria
enquanto, nas tarefas costumeiras,
mãezinha cozinhava,
cozinhava...
num vai e vem permanente,
para toda a gente,
família,
desses momentos,
ficou-me o cheiro,
quanto sabor,
adivinhava os passos,
períodos intensos,
descascar de leguminosas,
fritar de carnes, peixes,
trituração d´alimentos,
preparação da mesa,
hora da refeição,
num ALENTEJO prometedor,
condimentos adequados,
salgados, demolhados,
cozidos, açordas, refogados,
borregos, porcos, vitelos,
vítimas constantes,
fruta do mar,
a que surgia,
vezes por outras, aparecia,
autêntica magia...
doces apreciados,
na ocasião,
final da refeição,
retoque perfeito,
bem recordados,
como iniciei,
uma simples sopa,
quase um milagre,
coisinha louca,
tarefa única,
estudante não mui apurado,
vivia descansado,
quanto a comidas, a compras,
a fazedor
da culinária, suprema arte,
fosse do que fosse,
extraordinária,
como, dum violino, melodiosa ária,
numa orquestração que m´era alheia,
nem maestro, nem músico,
apenas consumidor,
como constatei, pelas circunstâncias,
mais tarde,
jovem, com profissão,
amorio d´altura
que perdura,
enlace adequado,
com padre, numa capela,
fatinhos com entretela,
alianças e tudo,
ninguém separa o que “DEUS” uniu,
religião que não professo,
confesso,
me deram, quando nascido,
como se viu,
casa própria, casalinho novo,
que perfeição,
tarefas em catadupa,
aprendizagem rápida,
limpeza do pó,
provimento de consumíveis,
tempos incríveis,
encargos,
lar, trabalhos,
minha mulher não era doméstica,
colegas,
vencimentos tão curtos,
duras refregas,
quantos sustos,
interrogações permanentes,
lá fomos vivendo,
aprendendo,
descobrindo segredos,
muita imagética,
questão d´estética,
na apresentação,
ornamentação,
desenovelando a magia,
com gosto, alegria,
aprendi a cozinhar,
colaborando, descascando,
reparando pela confecção,
de toda, qualquer refeição,
gostava do que fazia,
pelos cheiros do passado,
um que outro rabiscar d´olho,
quando a minha mãe cozinhava,
agora, casado,
na minha casa de telha vã,
alugada,
no princípio,
que desafio,
tentava, conseguia,
tornei-me “CHEFE” de pratos alentejanos,
mariscos, peixes, carnes variadas,
antanhos,
com orgulho,
mostrava,
quando convidava familiares ou amigos,
minhas habilidades,
que mantenho,
conservo,
realizo, vezes por outras,
delícia de tantas bocas,
fiel de todas as sopas,
substanciais
ou não,
mais normais,
como a de cação,
de tomate, de beringelas,
migas, açordas várias,
um ror,
fugindo ao mais elaborado
que, com matéria adequada,
não custa nada,
também sai cozinhado
pela mão deste vosso criado,
não é dom,
não é sapiência,
foi aprendizagem continuada,
quase adquirida ciência,
coisinha de nada,
ainda ontem,
pescadita média no frigo,
concluímos,
acordámos,
prato simples, agradável,
sopinha “gata”
saborosa, um espanto,
pão que migámos,
dentinho d´alho no prato,
regado com bom azeite,
de vinho, o vinagre,
pescada cozida, depois de salgada,
partida em troços,
juntamente com pedaço de cebola,
rola que rola,
rebola,
fervente,
q´odor,
quando juntámos,
quando comemos,
que sabor,
um branco fresco,
delícia,
que proveito,
não necessita qualquer jeito,
especiarias, picantes,
consoante, conforme gosto de cada um,
melhor ainda... nenhum!!!... Sherpas!!!...