terça-feira, 4 de agosto de 2009

... as gordas sem... "pinta" por onde se lhe pegue!!!...

... bairro de lata!!!...



... já me imiscuí por paragens dantescas de miséria,
olfactei odores pouco agradáveis,
chusma de excluídos, maleita séria,
vi cenas de pobreza extrema,
passei por barracos feitos de chapa, de latão, de cartão,
cirandei pela sala principal destas gentes,
a rua que os abriga,
doença grave que se não cura, sempre na mesma,
o esgoto que corre bem ao meio,
de fome,
grande barriga,
regato onde brincam crianças quase nuas,
sorridentes com todos os dentes,
cabeças à chuva, ao vento, ao sol,
sociedade desconforme,

apesar da boa intenção,
proferida por quem governa, que afirma,
ridículo encartado,
quando se perfila
perante os que lhe dão relevo,
mavioso enlevo,
qualquer câmara de televisão,
pasquim com tiragem suficiente, orquestração,

homens sentados, velhos, novos,
batendo cartas, pensativos,
trapos que são lavados em águas sujas, ali à porta,
gestos repetitivos,
som que se atira, mais forte, estridente,
chamamento, ameaça,
gritos aflitivos,
lancinante apelo a um Deus que ignora
quem sofre, quem pena, quem chora,

uma risota, uma chalaça,
encolher d´ombros,
aceitação,
passar do tempo naqueles escombros,
ruinhas estreitas, amontoado d´almas,
fumaça que se solta dum braseiro aceso,
sardinha assada, pequeno acervo
para tanta boca à mingua,
saliva na boca, papila que lembra, ponta da língua,
dali emerjo,
afluo,
recuo,

sítios parecidos, favelas que se aglomeram,
pessoas que esperam
quando desesperam,
sorte ou destino que se abate,
fúria que arrasta,
tortura que mata,
chuvada que passa,
rio que engrossa, lençol lamacento que se estende,
submerge o que encontra,
se mostra na montra,
milhares que se apagam,
rostos inexpressivos
mais mortos que vivos,
sombras indefinidas tão desvalidas,

são corpos, são mortos
de fome, plenos de desgraça,
foice que cega, terrífica que... passa,

sempre assim foi, continuará sendo,
não se importando, lá vão,
enquanto, gemendo,
desvalidos se encostam aos montes,
lugares perdidos pelos continentes,
sobras, restos,
horrendos manifestos
duma civilização que se perdoa
quando entoa
oração a preceito, num templo,
evoca ou avoca em seu proveito,
esquecendo defeito,
aquilo que vejo, agora contemplo,

memória que fica,
passagem que marca,
fúria que sinto num bairro de lata!!!... Sherpas!!!...

... amoras silvestres!!!...

… amoras silvestres, tecnologias de ponta,
água na fonte, remanso na sombra,

embaraço que se tem, ervas nas rochas,
sentidos embutidos, restos ou sobras,
contas dum rosário, riso do falsário,
tacanho, pertinente, fruto maduro,
já podre, no chão, no espaço uma sonda,
audível, completo, sagaz e matreiro,
Mundo que me espanta, veloz o ribeiro,
sinuosa a vontade, montanha tão alta,
sonho que se espalha, físico astuto,
esquilo nervoso, passarinho arguto,
descoberta que se faz, médico medíocre,
engenho que dispara, rebentação que se ouve,
metralha que destrói, mar que rebola,
praias de encanto, apetrecho que desliza,
gestos e gritos, jogo da bola,
sem fralda nas calças, simples camisa,
frondoso arvoredo, matas de medo,
campos imensos, cimento que avulta,
escaninhos tremendos, lixos aos montes,
cacos e trapos, sujos, imundos,
bocas com fome, barrigas vazias,
insensata mania de quem não se culpa,

aposta falhada, tecnologias de ponta,
amoras silvestres, remanso na sombra,

avanço que pára, enganos, fantasias,
gato enrolado, vão duma escada,
criança abusada, nojo que se esquece,
crimes que fazem, Terra que aquece,
revolução que se instiga, vida perdida,
guerra que aumenta, que mata, destrói,
sons que se espalham, palavras que mentem,
neve nos cumes, ferida que dói,
frios imensos, pessoas que não sentem,
dinheiros aos montes, bancos e grupos,
são vivas, apupos,
são chagas profundas, corpos sem alma,
cantos dum cuco, milhafre que plana,
seara que ondula, papoila perfeita,
ecrã tão brilhante, tão largo, tão amplo,
televisão que não é campo,
traste que infecta, luxo que inunda,
rouba, perverte, dor tão profunda,
criança que ri, cão que se enfurece,
seixo rutilante na concha da mão,
faca aguçada, cebola que chora,
lágrima que desliza, rosto que se fecha,
carência tão grande, triste promessa,

urso cinzento, tecnologias de ponta,
urze do monte, remanso na sombra,

preciosismos, ilusões, aglutinações,
intenção de preservar, perenidades,
rubis, esmeraldas, ágatas, topázios,
diamantes puros, eternidades,
acumulações, contrastes,
rebanhos que apascentam,
terrenos floridos, rosáceos,
tão pequeninos, colibris,
adejantes, velozes, esvoaçantes,
tanto encantam, quando intentam
sugar néctares, festins primaveris,
quais abelhas zumbidoras,
cumpridoras,
partes dum todo que se protege,
que se cuida, colónia nos jardins,
tarefas repartidas,
enxame que se alteia, bem comum,
continuidade mais que lógica,

amoras silvestres, mente tecnológica,
cavalo que relincha no prado,

patrão, escravo ou vassalo,
liberdade, supressão,
valores que se atropelam,
remanso na sombra,
dignidade que se não olha,
carpinteiro, serralheiro, trolha,
engenheiro, médico, ladrão,
político, oportunista, carteirista,
pastor, padre, professor,
pássaro, fera ávida, sangrenta,
abutre de garras fortes,
dentes gulosos, bocas famintas,
raças dementes, enlouquecidas,
mal cheirosas, as doninhas,
pedras soltas no caminho,
gemidos, choro baixinho,
inclemência,
degradação,
selva basta, cimento armado,
rua estreita, negridão,
crime que se comete,
perdão,
ingerência,
podridão,

amoras silvestres, tecnologia de ponta,
que contrastes, solidão,
mal que se sente, se aponta!!!... Sherpas!!!...

domingo, 2 de agosto de 2009

... as gordas com... gente "pobre" em Belém!!!...

... figurinhas descartáveis!!!... (antiga)




… figurinhas descartáveis, para mal dos nossos pecados, para assombração profunda… dos forrados, como chaga, na mente dos que nos desgovernaram, como se nada!!!... Estórias do dia-a-dia, de cada dia, ao dobrar da esquina, por aqui, por ali… passadas com amigos do peito, meus ilustres desconhecidos, ao meu jeito, gentes com menos sorte, com muitas agruras, com bastantes percalços, quase descalços, sem cheta e com mazelas, aos montes!!!... Basta vê-los, olhando como devemos, sem diminuir, sem massacrar, fazendo de conta que não nos apercebemos, sofrendo com eles… porque os aceitamos, compreendemos e choramos!!!... É cruel admitir que existem, proliferam, abundam, cada vez mais!!!... Vítimas duma sociedade ingrata, egoísta e patarata!!!... Ao que chegámos!!!...

… faço compras, como norma e por comodismo, numa grande superfície, embora goste mais do comércio tradicional, contacto directo com quem me vende, conversa que se arranja, simpatia que se gera, personalizado, claro!!!... Descurei-o, substitui-o pelos super e pelos hiper por acomodamento… eu pecador, me confesso!!!... Vou e, num instante, adquiro no mesmo sítio tudo aquilo que preciso!!!... Desde há muito tempo que frequento, aqui ao pé, um desses bacamartes, mercearias completas e repletas, habituei-me e como (…como todos os dias!!!... ) consumidor, tornei-me assíduo, com a cabeça no lugar, não me deixo levar, compro o que necessito, somente!!!... Quando vou, muitas vezes, deparo com cenas que me ficam na retina, que recordo, que me fazem pensar!!!...

… pessoa já idosa, um dos muitos amigos meus, ilustre desconhecido, de classe social baixa, pelo traje esfiapado, gasto, sempre o mesmo, cara rugosa, com vestígios de quem consome álcool amiudadas vezes, olhar vago, perdido no meio da multidão, com um carrinho do super-mercado, conduzido com afeição, com gosto, já preenchido com um embrulho, um saco de plástico de vulto!!!... Vi-o passar uma vez, segui-lhe o percurso, apreciei a paragem junto do segurança, mostrando o que levava, com um sorriso, com umas palavras, a sua entrada no espaço, o olhar guloso e curioso com que devassava tudo e todos, por onde cirandava, qual caravela louca, perspicaz, pouco voraz… nada comprava!!!... Fiz as minhas compras, como sempre… cruzei-me com ele!!!... Continuava com o mesmo saco no carrinho das compras, tirava algo das prateleiras, mirava e remirava, colocava no lugar… com mil cuidados, seguia em frente!!!... Depois de feitos os avios, paguei na Caixa, regressei a casa!!!... Do meu amigo, ilustre desconhecido… perdi o rasto!!!...

… os dias foram passando, sempre iguais, com altos e baixos, com quebras e alternâncias muito próprias, como a de todos… a vida dos mais normais, é evidente!!!... Em casa, fomos consumindo… a barriga não perdoa!!!...

… na semana seguinte, dia de compras mais avultadas, despensa vazia, azimute tirado ( …excesso, sem sentido!!!... ), direcção seguida, objectivo atingido, a mercearia do homem da Forbes, claro!!!... Lá caímos, como sempre, mais cómodo e rápido!!!... Estacionámos o carro, fomos andando, entrámos!!!... Eis senão quando… numa volta dum corredor, deparámos com ele, tal como no primeiro dia!!!... A mesma fardamenta gasta, puída, o mesmo olhar vago, aquoso… o mesmo rosto, ligeiramente avermelhado, o mesmo carrinho das compras, a mesma embalagem, saco de plástico, bem ao centro do dito!!!... Paragem aqui, tira e mexe, remexe, coloca no sítio, devagar, de mansinho, com cuidados mil, segue em frente, como sempre!!!... Chamou-me a atenção, como da primeira vez, agudizou-me a curiosidade, de tal ordem que, depois de dizer à minha mulher, segui-o à sorrelfa, fazendo de conta que não era nada comigo!!!... Os gestos, de repetitivos, mais curioso me puseram!!!... Chegado a uma certa altura encaminhou-se para a saída, para junto do Segurança, não da Caixa, com o carrinho vazio, isto é, com a embalagem de sempre, o tal saco de plástico!!!... Mostrou, comentou, sorriu… saiu!!!...

… contei o episódio, depois da perseguição, à minha mulher, falámos sobre o caso, apontei-lho, discretamente!!!... A partir desse dia, mais do que uma vez, encontrámo-lo nessa azáfama, nessa tarefa de brincar, nessa obrigação de mentira!!!... Ele, igual a ele próprio, o carrinho do super-mercado com o saco de plástico, embalagem que mostrava ao Segurança quando entrava, quando saía, percorrendo os corredores da gigantesca mercearia, olhando e mexendo… não comprando, fazendo de conta, simplesmente!!!... Figura curiosa, doentia, vazia… apartada de tudo, de todos, num Mundo imaginário, o dele!!!... Meu amigo desconhecido, tão ilustre e esquecido, pequenino!!!...

… pequeno apontamento, sem intenção:

- “… não, não tinha espingarda, não se revoltava por lhe terem tirado setenta contos ou mais, ou menos… não tinha nada, tinha mania, possuía uma grande fantasia, vivia com ela, disfarçava, fazia de conta!!!...”

… enfim, com os dias, com os encontros… já não ligávamos, fazia parte do esquema, era mais um!!!... Com a dele, os outros… com a de cada um, consoante e conforme!!!... Num desses dias de compras, por via duma bucha (…algo para comer, ao meio da manhã, um reforço do pequeno almoço!!!...) sentámos num daqueles cafés das grandes superfícies, quando reparámos que ali ao lado, preparando-se para a faina das compras de fingir, estava o nosso amigo, ilustre desconhecido, já com o carrinho, contendo a embalagem, bem ao centro… o tal saco de plástico, é evidente!!!... Olhámos e sorrimos!!!... Afastados, desligados por completo… fomos alertados por gritos e fúrias, berrarias!!!... Constatámos que era um indivíduo novo e forte, aventesma desconforme, homem na roda dos trinta e tantos anos que, furibundamente, invectivava a figurinha desta estória!!!... Ouvimos, entre outras coisas, que lhe chamava nomes, o injuriava, o mandava embora dali!!!... Que tomasse juízo, que fosse para casa, que largasse o carrinho das compras!!!... Que tristeza, quanta vergonha sentiu, certamente, quanta quebra dum sonho, quanta ilusão perdida, naquele instante!!!... Encolhido, mais que diminuído, depois de ter sido escarnecido por aquele tipo, familiar mais novo, pelo que ouvimos, esfumou-se, aos poucos!!!...

… nunca mais o vimos, figura pouca e descartável, amargura dos nossos dias, realidade dura e cruel, mais uma… entre tantas, com as que me cruzo, por aqui, por ali!!!... Aconteceu!!!... Sherpas!!!...

... fausto!!!...


... não é ópera, tão pouco teatro,
quando menciono fausto, obra que maravilha,
pelo contraste na reviravolta,
logo após um pacto,
entre terrenal tão vulgar e representante do Diabo,
com alma de permeio,
recreação de quem escreveu, usando uma lenda, devaneio,

vida de luxo, d´espavento,
solução, saída em tempos d´aflição,
num percalço que se teve, momento,
venda do que se pensa ter, tendo ou não tendo,
cálculo de quem muito pensa,
olha, mira, remira,
ambicionando tudo aquilo que não tem,
revoltado por não ser alguém,

única valia num corpo que sofre inclemência,
rigores da fome, penúria, estação mais fria,
imaginação fértil, demência,
alegoria,
quase direi, extensa fantasia,

se fosse essa a porta de saída, entrada,
quantas almas não se vendiam,
sem música alguma, sem representação,
no rocambole do milhão,
na miséria do sem tostão,
prensa enorme q´oprime,
faustosas vidas que se passeiam,
excessos sem contenção
perante os que nada valiam,

assim se viam,
assim s´avaliam,
nos reversos desta medalha que se contempla,
humanidade que se não redime,
permite realidade de quem ostenta,
rarefacção de quem não vende aquilo que não tem,
continuando sendo ninguém,

como entretém, no âmago, alguma pedagogia,
apreciação de quem assiste, disfarçando incómodos rebuços,
plateia ampla, bem composta,
dos que se sentam, aplaudem, se postam,
porque pensam, comparam, não gostam,
alma tão preciosa entregue a Mefistófeles
por dinheiros, regalias,
quando se pode roubar, dentro da lei q´ordena,
que tira, deita fora, condena
gentios tão desvalidos, ignaros de pensamento,
sórdidos, por nascimento,

baixos, cruentos, reles,
mantendo estatuto d´espezinhados
pelos que s´alçaram tão alto
não fazendo... nenhum contrato!!!... Sherpas!!!...