… apercebo-me que estou morrendo,
pedacinhos de mim desaparecem lentamente,
escrito que me marcou, ainda vou lendo,
associo a quem escreveu,
flor que se extinguiu, morreu,
lembro quando recordo,
ainda choro,
maneira de viver pouco decente,
porque não uma vida permanente
para os que tanto deram,
ensinaram,
fizeram de nós o que somos,
obras que não ficaram arrumadas na prateleira,
folheadas em certas alturas,
com gosto,
grande desgosto,
ausência repentina, partida para outro espaço mais justo,
passagem rápida por cá,
buscando um canto mais selecto
para os dilectos,
não crendo na ressurreição,
vida para lá desta,
tão curta, tão modesta,
ingrata quando não reconhece
quem parte, quem falece,
outros destinos, outros projectos,
estrelas se iluminam em Universo distante,
perenes porque se não apagam,
ali quedam estáticas, portentosas,
agregadas, luminosas,
depois desta curta transição,
passagem
na luta insana pela Terra,
voragem,
um passinho de gigante,
continuidade,
pensamento meu doutra realidade,
pedaço a pedaço fico despido dos meus orgulhos,
conhecidos de longa data
albergados nesta morada,
memória que tenho,
não abstenho,
guardo com afeição
o que me deram, ainda dão,
corpo que se extingue, chama que se apaga,
dor intensa quando se pensa,
cortejo fúnebre,
glória que não desejou,
figura que permanece,
acabou,
visualizo em meu juízo,
tenho prazer quando o faço,
homem com feitos perfeitos,
não esquece,
na lavra da escrita, intuição,
não me martirizo,
passo,
repasso,
folheando páginas de livro que escreveu,
entristeço,
melancólico, lembro
o que lhe ouvi enquanto o via falando,
gesticulando,
mestre que partiu para algum lugar desconhecido,
depois de vivo,
já morto,
na sepultura deposto,
mágoa, desgosto,
junto doutros que já partiram,
me reduzem,
matam pedaço a pedaço,
se reúnem em terras de ninguém,
mais além!!!... Sherpas!!!...
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