… tapo os olhos com as mãos,
tento reter visão que se me depara,
colorido pujante, cheiroso, naquela álea do jardim
onde me perco, seduzido,
permaneço estático,
o tempo passa,
vou caminhando por fim
pelo meio de tantos irmãos,
rebentos que desabrocham por todos os lados,
flores que abrem suas pétalas viçosas,
insectos nos seus mundos diminutos,
borboletas que volteiam, pousam delicadamente,
revoada de aves por entre arvoredos,
sons, os mais variados,
jardim pletórico, enriquecido,
tão perto, tão longe, tão esquecido,
expondo, inocente, seus segredos,
quase perdido,
recanto de encanto, prazeres partilhados de quem se mostra,
se deixa ver,
de quem olha à cautela,
pensativo, cativo por tanta coisa bela,
num sem querer,
só por e para ver,
oculto minha presença
como parte ingrata dum quadro mágico,
insignificante, perante,
quase intruso que se adentra, apático,
quase rasgo incomodativo,
degradante, naquela harmonia que se não ofusca,
aceita, deleita, completa,
não afecta,
alteia, rebusca
composição dimensionada,
quase imóvel, parada,
variada,
flora redundante, envolvente,
convidados para repasto,
néctares dos Deuses,
embriagantes odores descubro quando passo,
viventes menores, revezes,
logo após porta que atravesso de repente,
dela me desfaço,
cacofonia medonha se abate,
chega, me trespassa, me devassa,
ruído de automóveis, gentes,
pregões, discussões,
risadas despropositadas, gargalhadas,
desperto,
encaro outro Mundo, tão diferente,
choro amargura do que me não tenta,
regresso
ao outro universo,
volto à fantasia que me delicia,
escancaro os olhos por aquela vegetação luxuriosa,
indolente, preguiçosa,
aprecio seus vassalos, dependentes,
convidados de festim tão vasto,
baile intenso sob folhas, pétalas delicadas,
ares enfeitados com teias finas,
borboletas abrindo, fechando suas asas,
abelhas afanosas, zumbindo,
chegando, partindo,
criaturas tão débeis,
de costas voltadas,
espaços paralelos,
vidas tão plenas, locais tão belos!!!... Sherpas!!!...
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