quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

... estendidos no chão!!!... (antiga)

E vós, ó bem nascida segurança… da Lusitana antígua liberdade…

… vindo da sua residência privada, numa pressa, bem acomodado na sua viatura de topo, espelhada… com aquele cheirinho a couro, refastelado nos assentos de trás, com chauffeur apropriado, rememorando a jantarada de ontem no meio daquela gentalha forrada, num hotel de classe superior, como gosta… tal como a roupa que usa, último grito, um primor, sentindo-se centro de todas as atenções!!!... Maravilha!!!… Quando ainda dava os primeiros passos no mundilho da política, ainda com alguma ideologia, já desfeita, agora mais real e concreta, pouco aberta… neste Portugal repleto de falatórios e invejas, desconfiado e desconfiando sempre, contente do seu papel que lhe caía bem… quem lhe diria que, tal aconteceria!!!...

E vós, ó bem nascida segurança… da Lusitana antígua liberdade…


… sombra móvel, rápida e segura, bem escura, reluzente, sem dar por nada, avenida acima, escoltada, avenida abaixo, noutros sentidos!!!... Quando assim vai não costuma olhar, sequer… para os esquecidos, para os pobres mortais, para os vulgares, de pé… junto a um café, estendidos no chão, sentados num jardim, encostados a uma porta, desempregados, deitados e sem objectivos definidos, andando de cá para lá, numa azáfama constante, ganhando quase nada, tirando para a bucha e… pouco mais!!!... Portuguesinhos pequeninos, seus súbditos… pensava, como se fora rei, quase monarca passado, pela maioria que lhe tinham ofertado aquando das eleições, sem preocupações… para isso tinha uma quantidade exagerada de assessores, de pensadores, de escrevinhadores de discursos, de conselheiros sempre ao jeito e… em último caso, tinha todo um partido, assim tinha ficado determinado no Fórum em que botara palavra, em que os tinha convencido, mais uma vez!!!...

E vós, ó bem nascida segurança… da Lusitana antígua liberdade…


… enquanto pensa na reunião, nos discursos tão elevados, lá em cima, no pavilhão frente a plateia de estadão, gentes finas, refinadas, assistência que se prevê, mais uma vez sorri, enaltecido com ele próprio, nada preocupado com aquelas moscas ou moscardos, à volta do que se vê, quando se crê centro de tanta atenção!!!… Que estadão, que situação de privilégio, já pensando na voltinha que irá dar a um grande País do Oriente, tratado com todas as deferências, sorrindo, sorrindo sempre… bem envolvido pelos que pensam por ele, que estão sempre com ele, que o trazem ao colo, que o orientam, que lhe sopram aos ouvidos todos e quaisquer ruídos, que lhe ventilam opiniões, que lhe tratam das questões fáceis ou difíceis, que o preparam na hora, que o posicionam quanto a ângulo mais favorável por causa do boneco que há-de aparecer nas televisões, quanto a respostas que há-de dar depois de sabidas as… perguntas, todas juntas ou aos poucos, logo se verá, na altura!!!...


Vós, poderoso Rei, cujo alto Império… o Sol, logo em nascendo, vê primeiro…


… por agora, que jubilo, que emoção, ali ao lado, de passagem… enrolados em papelão,
manta suja, já rota, negação de quem não é, coisa pouca, vencidos, vulneráveis, esquecidos, quase transparentes pelas penúrias, neles… seu olhar não se detém, outras gentes, sem dinheiro, sem vintém, deitados no chão… rendidos!!!... Nunca viu um ministro andando a pé, falando com um indigente, com um mendigo ou… sentado na mesa dum café, frente a pessoas vulgares, misturado, sem seguranças, bem longe das contradanças, dos folclores concertados, das palmas, dos foguetórios, dos hotéis com tantas estrelas, dos negócios congeminados, das inaugurações, envoltórios, das câmaras das muitas telas… ia pensando enquanto se ia dirigindo para o seu destino!!!... Como chefe de todos os ministros fazia o seu papel, um regalo, doce sabor, que vigor… quando rodeado pelos parasitas que o alimentam, pelas vaidades que o aumentam, pelas mordomias que ostenta, quando intenta governar, assessorado pelos bem pagos, tão longe da realidade, dando a cara… fazendo de conta, na hora!!!...


Vós, poderoso Rei, cujo alto Império… o Sol, logo em nascendo, vê primeiro…


… fazem figura de parvos, quando se manifestam, quando gritam, quando esbracejam, quando cantam seus desvarios, quando passam, bem longe da crua verdade, esfomeados amalgamados, os esquecidos… mais que vencidos!!!... Vezes por outras, quando se excedem… incomodam, um facto!!!... O outro lado da moeda, coisa que se leva de vencida com mais uma promessa adequada, ligeiramente disfarçada, mantendo o tom, mantendo o dom, mantendo a mordomia em que se encontra, mais o parceiro com quem se reúne semanalmente, muito igual e distanciado do simples mortal, sua referência… entre outras já passadas!!!...


Vós, poderoso Rei, cujo alto Império… o Sol, logo em nascendo, vê primeiro…


… eles aí vão, com buzinas que avisam… vai passando a excelência, com exigência, com urgência, calcando terreno que pisam, pensando, com determinação, naquela reunião, na câmara de televisão, na tirada de momento!!!… Que deleite, que gozo desmesurado, dinheiro tão bem aplicado em proveito dele, dos seus companheiros de governação, do seu entorno, no dos outros como ele, mais milhão, menos milhão, junto aos endinheirados, multidão dos acostumados, não ligando aos postos de lado, estendidos no chão, ali, naquele canto, rua paralela à avenida, sem trela, pior tratados do que um cão, vida de grande desencanto, com cama de papelão, lençol de papel de imprensa, que se não avalia, não pensa, cobertor roto e sujo, pertença de quem nada possui, não tem, nem dinheiro, nem vintém!!!... A culpa não me pertence, pensava… sempre assim foi e, pelos vistos… continuará!!!...

Vereis amor da pátria, não movido… de prêmio vil, mas alto e quase eterno

… pelos pobres, pelos miseráveis se avalia um País, mesmo este, o que se contradiz, penso eu enquanto o vejo passar no carrinho de serviço, BMW de topo acabadinho de estrear, é norma, é habitual, só ligam quando precisam, depois… passam sem olhar, tão pouco!!!... Esqueçamo-nos dos mais notáveis, dos que progrediram, enriqueceram, dos que, bem sucedidos na vida a levaram de vencida, dos que acumularam, não deram, juntaram mais e mais, se fizeram mais iguais, se alcandoraram, por portas travessas, às recuas, às avessas, por caminhos tortuosos, ínvios… a Poderes incomensuráveis, influenciados por influências, tenebroso Mundo das excelências, manigâncias inacreditáveis!!!... Esqueçamo-los por um momento, penso eu… enquanto o vejo passar, façamos outro pensamento, lembremos os… miseráveis, os que dormem no chão, sobre um cartão, num portal, cobertos por papel de jornal, os que estendem a mão quando pedem um tostão, sem teres, pobres que são… quando os olho, com comiseração!!!...

Vereis amor da pátria, não movido… de prêmio vil, mas alto e quase eterno

… penso que também são Nação, gostaria que os nossos governantes quando passam sem olhar, parassem, descessem do carrão e pusessem os pés no chão, olhassem nos olhos os que são o… inverso dos felizardos, todos bem posicionados, essa gente rejeitada e tosca, gente miserável e infeliz que existe, que aumenta, que dá nas vistas, é que… por eles, se avalia um País, mesmo quando se contradiz!!!... Penso que, com as políticas que se praticam na União Europeia, estes restos que se acumulam por cá, os miseráveis, por lá… em qualquer País da dita, se avolumam a olhos vistos, pelo capitalismo selvagem que se pratica, pelo desemprego que aumenta, pela classe média que desaparece, pela lei da selva que se implementou, pelo triste exemplo que se buscou, do lado de lá do charco!!!... Pobreza envergonhada vai aumentando, miséria que se não disfarça, que dá nas vistas… pelo que ouvi, pelo que tenho lido, soma e segue, uns larguíssimos milhões de estendidos no chão, suplicantes, mendicantes!!!... Para onde te encaminhas… Europa Social???... Dá que pensar!!!... Sherpas!!!...

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