... meia dúzia de patacas na mão, no meio da avenida de terra vermelha,
batida,
enfiado numa tanga reduzida, tronco nu,
franzino... olhos escancarados,
pensativo,
vai para tantos anos, colónia mais pobre... de entre tantas que eram “nossas”
espalhadas pelo MUNDO conhecido,
pequena amostra de gente, com fome,
dura realidade, defensores duma aberração,
miserável população...
pedindo, pedindo um pedacinho de pão,
uma pataca, um patacão...
teimosia dum lema instituído, para além dos mares, quantos gritos,
incentivos repetidos...
vidas destroçadas, minas na picada, terra estranha que se entranha,
visão de África, clima que nos confunde,
com armas e gentes, para que não mude,
passado recente, indefinido,
calção curto, camisa encharcada pelo suor, humidade elevada, chuvadas repentinas,
calor insuportável...
mosquitos, bicharada em catadupa, formigueiros de “baga-baga” no meio do matagal,
muitas bolanhas, como sustentação, os arrozais,
alguns animais,
“roncos” que animavam, estava-lhes no corpo, batuques, música própria, dança,
sorriso de criança,
olhos espantados, aquando do encontro,
cumpria “missão”
em Bissau, como funcionário de repartição...
no Quartel General, Furriel Miliciano forçado, bem resguardado,
longe da guerra irracional que matava, cruel, insensível, idearia,
independência que se buscava, plegária de todo um POVO,
desejo enorme... quanta gente com fome,
na cidade capital, arredores com cubatas,
aglomerado abissal, bairro miserável conhecido por Pilão,
com umas moeditas na mão...
passam tempos, quedam memórias,
não escritas, vividas no momento, encontros casuais, quantas estórias,
um olhar, uma dádiva, um lamento...
compreensão perante outro irmão
nascido em local carenciado, amontoado de tugúrios sem condições,
sem futuro, sem ilusões...
fuga para a cidade, com uma simples tanga, corpito débil que estende a mão,
olhos de súplica perante fardados, dia de folga, vinda dum presidente,
velho engalanado, desfilando na avenida,
braço levantado, acenando, acenando... numa outra vida,
soldado forçado, andando, vendo, dando,
pataca que solto, criança com fome,
tão insignificante, tão pobre...
como pobres que fomos, como pobres que somos, sempre nos convencemos,
por querermos,
orquestrados por maus governantes,
tanto agora, como antes,
tão pequenino, tão grande, imenso,
quando o visualizo, quando o penso...
em qualquer partida do MUNDO, povos diversos, raças e credos,
além do MAR, vocação africana, asiática, também, americana que esquece,
BRASIL não merece...
Lusos confusos, apertados neste cantinho, apanharam o que puderam,
como quiseram...
colocaram um padrão, fazendo imposição, colonizadores a preceito,
com tanto defeito,
tal como fomos,
colonizados agora, tal como somos!!!... Sherpas!!!...
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