quinta-feira, 27 de novembro de 2014

… muito antes de… muito antes!!!...

... num  tempo muito longínquo, planeta repleto, profícuo,
seres vivos tão diversos...
vales, serranias, correntezas, asperezas de espantar,
diminutos a falar, mosquitos, aves, lagartos, leões ferozes,
mais companheiros, não algozes,

camaleão que não se esconde, humano que se irmana,
água límpida do ribeiro que emana...
todos vivem, se dão, diferentes no proceder,
grilo que entabula conversa com tartaruga, coelho não foge,
raposa, ali ao lado, amena cavaqueira com um peru,
falo eu, falas tu,
criaturas com língua comum,

antes da torre de Babel, muito antes da Arca de Noé, sem escrituras, testemunhos,
sem figuras, sem grandes vultos...
rezas ou confissões,
sem arabescos feitos por escribas, rasto de civilizações,
logo após grandes convulsões,

crateras e vulcões, mares que se acalmaram,
tufos de vegetação...
seringueira que conversa com um molhinho de salsa, tremoceiro irrequieto, ainda florido,
gargalhante, ridente, num grito,

nespereira que convida abelhas para as suas flores,
quantos encantos, quantos amores...
dádivas de muito antes, sensível MUNDO que comunica, falando,
agora lhes chamam fábulas a estorietas que nos chegaram
por enviesados caminhos, imaginação tão real, não fértil, constatação,
entre criaturas, afeição,

de energia pura se alimentavam, desenvolviam seus dotes,
não sendo fracos, não sendo fortes...
reinos menos complexos, tão intensos, resplandecentes,
acalmia que imperava entre todos que falavam, vegetal, molusco, verme, humanóide ou paquiderme, insecto, ave rara pintalgada,
sempre em conversa animada,

rato, gato, leão, raposa, cordeiro, camelo ou falcão,
erva rasteira verdejante, árvore de grande porte, poejo, pé de milho, centeio ou manjericão,
divina conversação...
entendimento perfeito, solução,

ainda não existia “homo sapiens erectus” no conjunto de tanto ser,
medroso, quase encoberto, nem de longe, nem de perto...
rastejante, como tantos, saltitante, como alguns, trepando caminhos, tagarelantes arvoredos,
integrado, com poucos medos, alvoroços ou segredos,
assim era, muito antes, viver só por viver,
molhinho de extravagantes, em harmonia, união, sem confronto, aversão,

até que um dia, nesta estranha fantasia, faltou energia vital, surgiu silêncio total,
alguns procederes se projectaram... se fizeram maneira de estar,

a bela flor deixou de cantar, criou raízes, sugou, desenvolveu mas não murchou,
nos bosques, soturnos e tristes, não se ouvia tagarelice...
alguns bocejos, sussurros, ventania que prevalecia,
mudança tão repentina na voz da andorinha, sinais tão evidentes, sons vários sem alegria,

mantendo alguns tal dom, guturais, mas perceptíveis,
no gato, no cão, no lobo, na vaca, na ovelha, no rato, no humanóide, no chimpanzé, no papagaio até...
algumas excepções, pois é,

criaturas que evoluíam, mais perfeitas, mais incríveis, necessidades prementes, sua razão,
questão de alimentação, outra energia, ocupação...
por qualquer canto, experimentação,

problema de suma importância, no MUNDO da extravagância,
quão perfeito, tão imperfeito...
esta, a minha razão, sem segredo, ocultação, bebericando um que outro líquido, algum fruto,
pedindo desculpa ao ribeiro e à frutífera, modificação, episódio abrupto,

fazendo pela vida, necessidade, mais agreste, cruenta realidade,
bicharoco que serve de repasto, plantas sem contemplação...
apetites mais vorazes, sabores da carne,
com contenção, dissimulação,
quase, quase abjuração, tirar vida a um irmão,

concomitantemente, redundâncias, foram perdendo a fala como perderam energia vital,
MUNDO mais abjecto, quase anormal...
muito, muito antes, repito, uma que outra excepção que se tornaram jactâncias,
com o passar dos tempos, pelas circunstâncias,

estórias que nos chegaram, situações aberrantes, dispersas, burlescas agora, temas vários,
testemunhos que mantiveram dom do palrar...
outros que tentam, guincham, urram, 
ladram,

piam incessantemente, cacarejam aloucadamente, uivam à LUA, festejam o SOL, alegram momentos...
provocam sentimentos,
mimam situações, em vão, simples pavoneios, ilusões,
perda tremenda, um não mais acabar, alegram os olhos, satisfazem caprichos
pelos ares, em esconderijos, nos nichos,

enfim, mudam-se os tempos... justificamos passado,
longínquo e farto, quando releio, comparo, reparo, concluo,
aceito, justifico, anuo,

episódio tão repetido... ainda falavam os animais,
dentre todos os viventes, insectos, aves, peixes, vegetais mais ou menos racionais,

corriam águas límpidas dum ribeiro, sedento que se aproxima, cordeiro inocente,
quando, num rompante, voz histriónica se levanta,
interpela, ameaça novel criatura

: - como te atreves sujar água que eu bebo?...

incrédulo, tão débil limita-se a retorquir
:- não é possível pois, a jusante me encontro, SENHOR!...

logo rebatido por sombra ameaçadora, forte figura
:- bem, se não foi agora, foi ontem, na semana passada, num dia qualquer!...

tremendo, adivinhando destino, quanta tremura,
perante situação de medo não ripostou,

insistia a fera que logo se posicionou,
dizendo
:- se não foste tu, foi teu irmão, teu pai ou teu avô!...

num ápice, levado pela gula, apetite enorme,
sentia fome...
caiu sobre o pobre, arrastou-o para um sombreado,
perante bandos de periquitos, pegas, papagaios, ávidos testemunhos da carnificina,
no dia da primeira chacina,

comeu-o com todos os dentes, cerceou-lhe a vida, alguns rastos sanguinolentos quedaram do repasto...
daí em diante, o MUNDO nunca mais foi o mesmo,

Paraíso na Terra tornou-se Inferno... qualquer raça, todo o género,
sem extravagância, recordação permanece,
como conto, como fábula, como exemplo sob qualquer contexto,
sem energia vital, harmonia, violência, basta um pretexto!!!... Sherpas!!!...

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