terça-feira, 20 de julho de 2010

... em ponto!!!... (antiga)

… com alguma displicência, percorrendo áleas arborizadas do parque,
passando junto a estátua da matrona Vitória, já depois dos armazéns,
luxuosos nos artigos vendáveis, vários pisos, memorial da princesa, do seu par,
herdeiro do bilionário egípcio que, quando recorda, se mostra grave,
enfrentando toda uma tradição que permanece de pedra e cal,
nos castelos, nos palácios, nos entreténs,
ostentando, sem alteração de comportamentos, na altura da libra forte,
divisa que se mantinha muito acima das alheias, sem qualquer corte,
pujança no País, império disfarçado, potência nuclear,
enfáticos no falar,

costumeiros nas usanças, escravizados ao chá das cinco,
aos “cakes” que deglutem com parcimónia,
lá p´rás bandas de Kensington, salão imponente, repleto na hora certa,
gentio que se congrega, se aperta,
aguarda vez, na hora exacta,
vida de finuras, folganças, contidos risos,
sítios precisos,

turista que desfruta, se junta, experimenta tal ritual,
antes de visita aprazada, ali ao pé, ninho de quando princesa embevecida
pelo príncipe encantado, muito antes da desilusão,
toda aquela confusão,
amante de sempre, princesa d´agora,
depois da morte violenta, numa ânsia louca de fuga nas margens do Sena,
cidade do amor, brilhos, cores,
tantas parangonas nos tablóides, fotógrafos que provocaram dores,
tempos idos, extensas visões de quem, nada fazendo, foi uma pena,
s´intitulava como princesa do povo, não sendo,
final d´improviso, como aviso,
tragédia num percurso acidentado, estava escrito,

com dois dedinhos apenas, na asa da xícara, com graça,
fazendo pala com os outros três, um sorvo frugal, como num sapal, elegante garça,
gargalhar contido nas vestes de fino corte, um olhar que disfarça,
grasnar baixinho, como quem não quer,
um ter de ser, toque social,
diligentes serviçais que s´aprontam
ao menor gesto, mero sinal,
se perfilam, logo anotam, apontam,
na hora exacta, às cinco em ponto,
naquele encontro,
junto ao palácio, ninho d´então,
de quem foi, se foi em vão,
do Povo, princesa da simpatia, um amor com tanto querer, raro fulgor,
num salão apropriado, fazendo questão de experimentar hábito antigo, tradição,

depois de galgados alguns quilómetros na álea do parque, com pétrea rainha que se posta,
lembrando toda uma vontade passada, todo um prolongar,
monarquia inglesa, império, potência que s´anuncia, desgraça,
imposição,
na altura das farturas, libra forte,
agora… em recessão,
dentada pequenina, mastigação lenta, imperceptível,
quase incrível,
acto de quem come sem mostrar função,
com contenção,
num saber estar, sem desnorte,
salão de chá, horas em ponto,
às cinco, tardinha que s´arruma,
em suma,
quotidiano de gente que se junta naquele encontro,
tacinha com água em ebulição, cheiro que adocica palavras de momento,
bolinho sensaborão que se trinca, devagarinho,
alguns sorrisos, exclamações que s´escapam de mansinho,
um que outro gargalhar, pequeno intento!!!... Sherpas!!!...

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