quarta-feira, 2 de junho de 2010

... mau começo!!!... (antiga)

... quase bilhete postal dos anos vinte,
amarelecido, tons castanhos,
num preto e branco desmaiado,
prenúncio cinzento acentuado,
dia de enganos,
indício de quem adivinha mau começo,
quando se prostra, não insiste,


desgostoso com a natureza que atraiçoa,
sento-me no lugar favorito,
num arremesso,
birra infantil em corpo velho,
tanto que gostaria de me deslocar a Lisboa,
dar passeio costumeiro,
olhar os outros,
percorrer ruas, ruelas,
auscultando ruído longevo
trazido nas fraldas do vento,


quando sopra manso, rasteiro,
levando sabores misturados com cheiro,

guardado nas telhas velhinhas daquela casa centenária,
candelária que recordo,
cortejo que revejo como num sonho,
prior com vestimentas nobres,
paramentos de festa religiosa,
rosmaninho que perfuma aqueles passos,
ligeiros traços,
procissão que se arrasta, promessa,
tarde ensolarada, efeméride,
acontecimento repetitivo,
cativo,
sol que aquece, revigoro,


registo que se não mede,
se vive,
sente-se
nas orações entoadas por tantos pobres,
santo no cimo do palanque, bem alto, no andor,
tempo passado que surge,
ergue-se,
sempre presente naquela travessa,


bairro que brilha, contente
nas flores que ostenta nas janelas,
bem postas, regadas com amor, dedicação,
companhia ali à porta, no chão,
em profusão,
colorido tão garrido,
emoção
no regresso que faço quando posso,
como pão nosso,
oração,


alimento minha alma inquieta
que não aceita, invectiva, não aquieta,
rejeitando sombra que se prolonga,
adona da cidade que amo,
escurecendo o que mais gosto
como num postal descolorido,
tons desmaiados,
preto e branco
que me retém na casa onde habito,

sentado, birrento como criança em corpo velho,
desiludido,


mau começo neste dia sombrio em que escrevo
o que me vai dentro,
quando intento
afastar imagens que me assolam,
consolam!!!... Sherpas!!!...

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