sexta-feira, 15 de agosto de 2008

... nas nuvens!!!...


… nas nuvens, sem visão, perdido,
bem no alto, absorto, distraído,
apartado das coisas deste Mundo,
etéreo, pensamento que me abraça,
que me traça, que me conduz, profundo,
que me leva os passos, quando me transporto,
não sei para onde, não me importo,
estranho, quando me vejo, quando acordo,
mais sonhador, desligado,
dizem que pouco interessado,
quase sempre discordo,
gosto de olhar para o lado,
ver com olhos de ver, quem sofre,
quem mendiga, quem se vende,
quem passa pela vida, como um dissabor,
com um amargo de boca… seja onde for!!!...


… quando o meu espírito sente,
se revolta, é levado a pensar,
comparando, inevitavelmente,
entre o acomodado, displicente,
o desgraçado que… não é gente,
o confesso canalha, com coisas, com tralha,
carregado de mordomias, fantasias,
o Cristo sofredor, com dor,
quando se esforça, trabalha,
atirado, com ímpeto, para a valeta
pelo prepotente matreiro, dono do dinheiro,
dominador absoluto, dissoluto,
sem valia, sem conhecimento, sem letra,
quando se considera, como useiro,
sempre o primeiro,
voraz, insensível… um bruto!!!...

… repleto de ideias que me perseguem,
que me assolam, que me seguem,
levado por elas, quando ascendo,
quando me perco nas nuvens,
perdido, com vistas despertas, alargadas,
pensando em tudo, em simultâneo,
fazendo parte deste engano, vendo,
quantas disparidades, quantos volúveis,
quanta vidas sofridas, estragadas,
evolução congelada,
amnésia total ou… aparente,
do que se não entrega, do que arrecada,
do que não partilha, egoísta, fera,
que não vê o que… o espera!!!...

… cova funda, negra e escura,
num terreno a esmo, com casa por cima,
pedra branca, tão alva, tão pura,
palavras de ocasião,
quando morre, quando se arrima,
para o honesto, para o ladrão,
para o impoluto, para o nojento,
palavras, leva-as o vento,
incinerado, feito em cinzas,
atitudes mais precisas
dos desiludidos da vida,
restos atirados ao mar, numa onda que passa,
projecto final, sem destino,
que se sente, que se traça,
como um choro, mágoa… caminho,
palavras poucas, dos mais próximos,
vozes loucas, afónicas, sem tónicas,
perante sofredores mudos, lacónicos,
sem sorrisos, macabros, atónitos,
confusos, descrentes, gentes,
quantos e quantos… inocentes!!!...

… bem no alto, bem perto,
ao mesmo nível, se por acaso,
quando olho, quando paro,
quando vejo no concreto,
alma que geme, pensamento fechado,
ferido e condoído, escrevo calado,
fora das vulgaridades comezinhas,
logo me encontro… quanto desencontro!!!... Sherpas!!!...

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