… e aquela velhinha, bem velha, alquebrada… muitas décadas em cima, mais de oitenta, um pauzinho seco de aspecto, já curva, de poucas falas, de muitos pensares, naquele lugar medonho, no meio da serrania, num aglomerado de casas de pedra, quase todas… vazias, com sachola ao ombro, tocando no flanco duma vaca que traz do pasto, lentamente, como imagem parada no tempo, em pleno século XXI, no ano da ciência, da tecnologia, do avanço, da modernidade, claro… ainda agora a vi na televisão dos enganos, em Junho de 2006, pois então!!!... Como ela, lá na aldeia… encostados pelos cantos, sentados ao sol, quando clareia, encolhidos à lareira, quando gela, faz frio, há mais alguns, gentes rijas, endurecidas pela vida, pais e avós de filhos e netos espalhados por aí, quase esquecidos, congelados numa época passada, sem perspectivas futuras!!!… Lá se vão arrastando, da leira para o tugúrio que preenchem, cavando umas terras, plantando umas batatas, umas couves, ordenhando o gado, matando um bácoro, fazendo enchidos, sempre com o mesmo aspecto… fazendo pela vida, vegetando, andando no mesmo sítio, esperando pelo descanso final, isolados no meio da serrania, sem qualquer espécie de fantasia!!!...
… alguns, depois de me lerem… podem pensar que estou inventando!!!... Quanto gostaria, que satisfação teria se fosse o caso!!!... Autênticos resistentes, heróis de corpo inteiro… num País que se não lembra deles, sequer!!!... Vezes por outras, como reportagem… são notícia, tal como os que morrem à fome naquele continente imenso, o africano, depois volta ao mesmo, como se nada!!!... Interioridades tremendas, abandonos e suas consequências, vidas em falência constante e continuada… aldeias desertificadas, meia dúzia de habitantes, se tanto, casas de pedra, incómodas, sem águas canalizadas, sem esgotos… algumas, já electrificadas, com os bonecos da televisão que lhes mostram Mundos estranhos e longínquos, vidas fictícias, impensáveis, até!!!...
… alimentação de subsistência, produzida pelos próprios… vestimentas de sempre, práticas e sem luxos, quase andrajos, de puídos, já gastos pela usança, tamanha a penúria, a falta de gosto pela vida que arrastam, pelos anos que já têm!!!... Os meus heróis queridos, do peito… ao jeito da resistência que possuem, que mantêm!!!... Velhos e ressequidos… esquecidos, com muitos filhos e netos, espalhados, por aí!!!... Em Lisboa, no Porto, lá pela França, pela Alemanha… para lá do Atlântico, nas Américas, nos Brasis, descendentes e prolongamentos deles próprios que, vezes por outras… por curto tempo, por período reduzido, surgem e desaparecem, com carros e sorrisos, com muitas festas e afagos, numa reviravolta, num movimento inusitado por todo o lado… ressuscitar do passado, momentâneo, quase instantâneo!!!...
… depois, lá vão… deixam o sítio, o vale onde nasceram, os pais ou avós, na sua pasmaceira de sempre, completamente sós, na vidinha comezinha de sempre, da leira para o tugúrio, ao canto da lareira, sentados ao sol, enchendo uma bilha com água, tocando no flanco duma vaca, duma cabra, duma ovelha… alimentando porcos ou galinhas, com falas baixas, mansinhas, do alto dos seus oitenta e tais, bem curtidos, bem trabalhados, como é uso, hábito antigo!!!... Alguns possuem televisão já velha… que dá para entreter, para ver coisas esquisitas, quase estranhas… tão inatingíveis, pouco credíveis, de longínquas e distantes se encontrarem!!!... Vidas difíceis dos… meus heróis, dos resistentes, dos de sempre, parados no tempo… em pleno século XXI, em Junho de 2006, podem crer!!!...
… quantas medalhas não mereciam estas almas???... Por mim… num 10 de Junho, “dia da raça”, de Portugal e de Camões, condecorava-os, erigia-lhes monumento a preceito, tal como a outros… meus conhecidos, fazia os possíveis por inclui-los, não me quedaria por conversas de treta, de ocasião, pois então!!!... Enfim!!!... Sherpas!!!...
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