segunda-feira, 11 de agosto de 2008

... decrepidez!!!...

... o sol ainda não tinha aparecido na ruinha
tão reduzida,
na casinha tão velhinha,
quase ruína,
na porta, única entrada, também saída,
no postigo, quase cerrado,
reduzido, gasto, tão velho como o velho,
alto, magro, arrastando os pés, trémulo,

sombra imensa do passado,
roupas em desalinho,
tão sózinho,
ralos cabelos encanecidos, alvura como neve na serra
que perdura,
não se enterra,
resistente que se aferra no tugúrio que já foi casa,
já foi lar, já foi berço, já foi família,
já foi bulício, encantamento,
todas as coisas do Mundo,
risadas ao desafio,
traquinices dos mais novos, conselhos,
anelos,
paixão incontrolada, quantos sonhos, desejos,

foi rumo, foi caminho, foi meta, foi ilusão,
foi recanto, foi descanso,
foi diversão,
foi ajuntamento,
tal como o tempo que se esvai,
quando a noite cai,
foi o que deixou de ser,

repetição que se torna constante,
desvario,
passagem como voragem,
ruga que surge na cara,
crescimento dos que não param,
homens que são agora,
dispersão dos que vão embora,

visita intermitente,
saudade,
lágrimas que surgem, por vezes,
doenças que agastam,
quantos ralhos, quantas fezes,
penúrias, desencantos,
aflições com muitos prantos,
retalhos que vão marcando
enquanto tudo vai passando,

faltas que incomodam,
auxílios que se imploram,
preces que saem da boca,
cabeça alerta, correria tonta,
casal que se aconchegava
no lar que era uma casa,
mais nova, resplandecente,
agora em queda,
quase esgotada
como corrida que termina
de quem correu numa vertente,

rangido nos gonzos que chiam,
corpo encarquilhado,
alguidar de plástico na mão,
ruinha sem sol, tugúrio sem cal, quase caído,
porta com postigo,
solidão como castigo,

resistência de quem teima,
grossa toleima,
trapos enrugados, pingando,
que vai ajeitando no cordel, estendedor,
com molas que coloca a custo,
sem susto,
destino com grande dor,
sem filhos, sem netos,
estertor,
mulher que o deixou há pouco,
final que antevê, quadro que enche a ruinha,
triste lugar, tanta ruína,

mente d´alguém que resiste,
insiste,
memórias que tem,
aos montes,
tão longe, dispersas as fontes,
apontamentos que se esvaem também,
tão só... quase nada,
sendo ninguém!!!... Sherpas!!!...

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