… pequenas coisas, saudades imensas,
quando paras, quando pensas,
quando olhas, com tristeza,
todo o tempo que passou,
quando sentes, com ternura,
o que foste, como foi,
quando tentas agarrar,
o que te não pertence, escapou,
quanto nos amarga, quanto nos dói,
este preâmbulo, esta penumbra,
quando te falha a memória,
quando não recordas a estória,
o episódio marcante,
falha natural, não aceite,
coisa que dói, revoltante,
quando se rebusca, na mente,
nos sentimos impotentes,
débeis, esquecidos, inocentes,
como volúvel e fraca gente,
neste rodopio infernal,
espiral vertiginosa,
passagem fortuita, banal,
de criatura singular,
pouco segura… não formosa,
tal Leonor, esbelta, graciosa,
ágil, jovem ainda,
alvo de amores projectados,
de poetas enamorados,
no final… das nossas vidas!!!...
… não venhas tarde, cantava,
com voz maviosa, pausada,
um pouco rouca, sem esforço,
fadista do meu passado,
já entradote, colosso,
que eu apreciava, pela pose, comportamento,
pelo poema que entoava,
pelo que, quando cantado, lhe punha de sentimento,
pelo tom de voz que dava,
quando cantava… que encantava,
não esqueço, nem um momento,
a nossa Hermínia, a das tabuinhas,
naquelas casinhas,
as da Mariquinhas,
com sorrisos, requebros,
entremeando seus versos,
com ditos espirituosos,
ela, com o seu Pacheco,
quando cigana, nos filmes,
rezando sinas, rogando pragas,
ainda, em mim, fazem eco,
essas imagens humildes,
do cinema feito nas fragas,
nos campos de outros tempos,
sem maldades, sem excessos,
mais humanos… menos perversos!!!...
… na Coimbra dos meus amores,
do Mondego, do choupal,
quantas moçoilas, quantas flores,
quanta juventude cantada,
quanto fado esganiçado, notas arrastadas,
paixões descontroladas,
numa escadaria qualquer, numa rua estreitinha,
junto de tantas amadas,
quantas e quantas serenatas,
na tua cidade, na minha,
guia mor, romaria,
ilusória fantasia,
da mocidade perdida,
desta idade que avança,
que se não condói, que nos mói,
quando nos vai… a lembrança!!!...
… quanto gostaria de reter,
de manter, em mim, a recordação,
bem viva, jamais esquecida,
como um haver, como um ter,
pessoal, muito meu, avarento convicto,
de saberes, de conhecimentos,
sujeito a esquecimentos,
memória curta,
com a idade, se nos encurta,
facto passível de acontecer,
sem eu querer, sem crer,
inevitável, não evitável,
consequência execrável,
de quem muito gosta, de quem muito quer,
de quem guarda no peito, perto do coração,
sempre ao jeito, bem guardado, retido,
tantos seres, tantos factos acontecidos,
como memória muito própria,
embrulhados num envoltório,
resguardados, muito queridos,
que se lhe escapam,
desse cofre forte de emoções,
de fantasmas… de ilusões,
quando se não acautelam, passam,
por vezes… às vezes!!!... Sherpas!!!...
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