... nas terras do Demo!!!... (antiga)

…nas terras do Demo, nos Alentejos profundos, na barca dos sofrimentos, nas épocas do sol a sol, depois de tantos abusos, depois de tantas prepotências, por parte dos senhores, dos coronéis nacionais, naquelas imensidões, terra de Paraísos, para alguns, de tormentos, para a maioria, tal como já referi no início…começaram a esboçar-se más vontades, rebeliões, tímidas, no meio de muitos trabalhos duros, sob um clima inclemente, enquanto proliferavam bastardos, produzidos pelos patrões, sem respeito algum pela dignidade das mulheres, das serviçais, perante a indiferença…das santas senhoras, as dos muitos filhos, das grandes proles, piedosas e conformadas, com os desmandos dos maridos, uns boçais!!!...

…houve intervenção da GNR, imposição, alguns tiros, recordo… ainda pequeno, todas essas convulsões!!!...Surgiram os automóveis, os dinheiros dos forrados eram muitos, os prazeres dos ditos…alargaram-se, passaram a deslocar-se à capital, procurando outras ocupações, alguns mantinham amantes, tanto na terra como em Lisboa, era de bom-tom ter uma espanhola, por conta, na capital…por alturas da guerra civil, aqui ao lado, antes de eu ter nascido, antes das rebeliões dos rurais, da plebe, da ralé, da chusma, quando as coisas iam, por cá, com racionamentos nas compras mas… mais calmas, do que em Espanha!!!...Surgiram muitos bastardos, meio irmãos dos meninos, nunca reconhecidos como tal!!!...Era um pavor, um abuso tremendo, uma insensatez permanente…a dos latifundiários!!!...Começaram a viver em Lisboa, quase sempre…pontualmente, vinham aos Alentejos, pedir contas aos feitores!!!...Entretanto, morreram e…os filhos, que eram muitos, quedaram pela grande cidade!!!... Lá… passearam os livros, mediante conhecidos e conhecimentos, conseguiram um canudo, fizeram-se doutores, só por serem, claro!!!...Aproximaram-se do Poder, ficaram deslumbrados!!!...A vontade, a ganância, descambou para outras bandas, os Alentejos, para eles, com rinhas entre irmãos, por heranças, por quereres…deu em abandono dos lares paternos, dos palacetes, fechados, mantidos por meia dúzia de fiéis, criadagem de confiança!!!...Alguns edifícios…foram-se degradando, aos poucos!!!...

…os trabalhadores, pela má vida, pelas más condições, pela falta de meios de subsistência, pela violência dos serviços, viraram costas, também!!!...Procuraram outras paragens, outras actividades, vieram para o litoral e…instalaram-se nas zonas fabris, viraram operários, pelo Seixal, pelo Barreiro, por Almada, na Siderurgia, na Lisnave, nas fábricas de cortiça, em tantas outras!!!...Povoaram a margem Sul!!!...Ainda hoje, dizem… que, oitenta a noventa por cento da população desta margem, são alentejanos ou…descendentes dos que, primeiro, vieram para cá!!!...Melhoraram a sua vida, abandonaram a sua terra, madrasta de muitos, de quase todos…mãe de alguns, os mais abonados, os dos desmandos, os que espatifaram fortunas, com amantes, com jogatanas no Casino, com espanholas, com deslumbramentos…na grande cidade, uns bacocos, com muitos rebentos, os meninos, que se quedaram por aí, ostentando!!!...

…o Alentejo foi sangrado nas suas mais valias, nas suas gentes, foi mecanizado, estupidamente considerado o celeiro de Portugal e…deu no que deu!!!...Hoje em dia, votado ao abandono, depois duma reforma agrária selvagem, (…sempre houve excessos, dos dois lados, claro!!!...) de cooperativas infrutíferas, de restituição de terras aos donos, de indemnizações de vulto, de voltas e reviravoltas, é o que é…uma espécie de deserto, para desportos radicais, umas quintinhas de luxo, espargidas por qualquer canto, grandes empresas empregadoras, as Câmaras Municipais, algum artesanato, fábricas de queijos, de enchidos, poucas, mas de qualidade, boas vinhas, com gastronomia de requinte, com o melhor vinho tinto do Mundo, quanto a mim e…pouco mais!!!...É, como todo o interior que passou pelo abandono dos seus naturais, uma romaria de saudade, em determinadas épocas, um poiso, uma recuperação de casas do passado, por parte de descendentes dos primeiros habitantes, que as compraram, as modificaram, as actualizaram!!!...Ainda recordam o passado, de quando crianças, naquelas casas, naquelas ruas, os companheiros, as brincadeiras, os jogos!!!... Hoje adultas, com cursos superiores, alentejanos, no sentimento!!!...Quase choram quando vêem, o Alentejo dos seus amores, com pouca, escassa população…uma desilusão!!!...Continuamos vendo os palacetes abandonados, fechados, por partilhas difíceis de resolver…entre irmãos!!!...Alguns, recuperados, em plena charneca, nas vilas e aldeias…reconvertidos em pequenos hotéis de charme, em turismo de habitação!!!...

…quantos e quantos jovens, por inconsciência, por adrenalina, dizem…nas estradas, perdem a vida, em acidentes brutais???...Porque não encaminhá-los para o interior, em busca dessa adrenalina, sob a forma de trabalho, de aposta no futuro, devidamente acompanhados, esclarecidos, ajudados, com objectivos precisos…na recuperação dum País…que se contradiz, tremendamente desequilibrado, mal governado???...É de pensar, é de concretizar!!!...Dá que pensar, não dá???...

…não abordei os bairros de lata, os primeiros, os bidonvilles de Paris, provocados por estas gentes, pobres, sem dinheiro, deslocadas por força das circunstâncias…as da altura, os subsídios Europeus que convidam a não fazer, as directrizes que nos convertem em passivos recebedores de dinheiros, nas terras, nos gados, nos mares, umas vezes bem aplicados, com sucesso, outras…não tanto, desviados para partes incertas!!!...

…as voltas que o Mundo dá, as facetas que nos apresenta, nesta viagem que é a vida, com muitas paragens, com muitos avanços, com recuos, com sorrisos, com amuos, com tristezas!!!...Muitas coisas mais teria de escrever, limitei-me a sintetizar, generalizei, não aprofundei, fiquei-me pelo limbo, pelas franjas… simplesmente!!!...Tudo isto, os tempos da lavoura, claro… teve origem, por causa da visão fantasmagórica, de paisagens destruídas, queimadas, onde, dantes…tudo era verde, era belo, formoso, agora, reduzido a cinzas, a escombros, tal como… afirmações gratuitas, dum certo papagaio, quando afirma que… o interior, não dá votos, daí o pouco ou nenhum interesse que os políticos do Poder, sentem por ele, cada vez mais pobre, mais desertificado, mais abandonado, votado ao desprezo, claro!!!...Parece mentira mas…é um facto!!!...

…apetece-me terminar, parafraseando, sem intenção de magoar quem quer que seja, com palavras dum nosso confrade, nestas coisas dos Fóruns, aqui do Parlamento:
- Contra a incompetência, marchar, marchar!!!...Contra a irresponsabilidade, marchar, marchar!!!...Contra a incúria, marchar, marchar!!!...Contra o desequilíbrio, marchar, marchar!!!...Contra a pobreza e a miséria, marchar, marchar!!!...Contra a impunidade e o arbítrio, marchar, marchar!!!...Contra os fazedores de cabeça, marchar, marchar!!!...Contra os políticos carreiristas, marchar, marchar!!!...Contra tanta COISA que, todos juntos…deveríamos marchar!!!...Sem depressão, com realismo, do passado e…do presente!!!...Sherpas!!!...