terça-feira, 11 de dezembro de 2007

... acabou-se a manta dos... mendigos!!!... (antiga)

…foi-se o Verão, foi-se o calor, a manta do indigente, do desgraçado da rua, do miserável abandonado, do que, por mais que procure, não encontra, um ombro amigo, a seu lado!!!...No Verão, vá que não vá, num banco de jardim, num portal, num recanto qualquer, no chão duro, como cama, tendo o calor do Verão, como manta, lá se vai passando, sem frio, um pouco mais acomodado, no seu viver despreocupado, abandonado, posto de lado…depois, bem, depois sempre vão aparecendo uns voluntários assumidos que lhes vão distribuindo, umas sopas, umas sandes, numa rua qualquer, sempre há um homem, uma mulher que param, os olham, os confortam, lhes oferendam uma moeda que cai num bolso vazio…quando tem o suficiente, avança com rumo certo, como indigente alcoolizado, para a taberna do lado, onde dá mais uma cavadela na sepultura ansiada…meio consciente, embriagado, arrasta seu triste fado, pelas ruas da amargura, esquecido, posto de lado…do mal o menos que, no Verão, tempo quente, confortável, está-se mais abrigado, com o calor como manta, com o chão como cama…mas o Verão é uma estação, um tempo que se acaba, que vai embora deixando chuva e frio, com abundância…é vê-los, aos coitados, enrodilhados, tremendo, pelos cantos com jornais, com cartões aos montões, casinhas piores do que as dos cães onde morrem seus pecados, seus perdões, com indiferença total dos que não olham, vão em frente, como faz a maioria da gente:

…a chuva cobre a cidade/como um manto transparente/caindo com intensidade/lavando casas, molhando gente/arrastando o lixo das ruas/regando todas as plantas/secas, sem folhas, nuas/anteriormente plantadas/quase sempre, abandonadas/como os marginalizados/semeados em cantos, molhados/plantas murchas, quase mortas/vivem nas ruas, fora de portas/esquecidos pelos acomodados/falsos messenas, escariotes/hipócritas ajuizados/possuem tudo, aos magotes/pouco gostam de partilhar/férteis na arte do não olhar,/que não vêm, não querem ver/os que se fartam de sofrer/neste Inverno, noutros mais/que massacram os carentes/como se fossem animais/os irracionais inocentes/como Cristos párias, crucificados/escarros duma sociedade/que se habituou a pô-los de lado/porque não aderem ao sistema/são, por ele, marginalizados/até morrerem, inanimados/num beco, numa avenida/numa morte triste, não sentida/não chorada, logo esquecida/pelos miseráveis invidentes/nas igrejas, muito crentes/nas ladainhas, nas orações/entoadas em conjunto/junto às imagens das ilusões/tantas que até as confundo/nos empolados sermões/dos curas, dos sacerdotes/mui hipócritas, mercenários/adoram o dinheiro, a potes/se portam como falsários/nas atitudes que não tomam/para os que não vivem e morrem/para os que, quase abandonam/porque não os sentem, nem querem/tal como aquela crucificação/que lhes deu uma religião/a dum Mestre que foi irmão/destes desvalidos, sofredores/seus dilectos, maiores amores!.../A chuva cobre a cidade/eu choro esta verdade!!!

…não seria tempo, mais que suficiente, que as instituições competentes se debruçassem com mais afinco e denodo perante factos destes, dos mais insignificantes e vulgares, dos mais anónimos cidadãos de Portugal que, por razões várias, foram arrastados para esta cruel situação, onde vegetam na mais abjecta miséria, perante os olhos dos que não vêem ou não querem ver, porque ficam incomodados e se limitam a olhar em frente, a encolher os ombros e…é como se nada???...É tempo de se inverterem situações como estas, mais duras e cruéis, com o frio, com a chuva, de se prevenirem, de se canalizarem os nossos impostos para estas bandas, tão esquecidas dos que, como pavões inchados, se passeiam pelo Mundo, pelos salões, pelas convenções, pelas mordomias de que não abdicam, pela incompetência que não reconhecem, quando a praticam irresponsavelmente…errar é humano mas reconhecer os nossos erros e emendá-los é mais humano e digno…quando não servimos os que devemos servir não devemos ter vergonha de abandonar o barco e ceder o lugar, amavelmente, a quem consiga ser mais competente do que nós, penso eu… simplesmente… Sherpas!!!...


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