quinta-feira, 5 de abril de 2012

... CALVÁRIO???...



…não vou escrever sobre santos, sobre santas,
sobre padres, sobre procissões,
sobre religiões, sobre crendices,
sobre beatices,
sobre procedimentos,
sobre pecados, sobre arrependimentos,
sobre espiritualidade,
sobre ladainhas que se entoam, repetição de tradição que se arrasta,
sobre usança folclórica, bonançosa,
promessa para depois da morte,
sobre eternidade
que assombra qualquer verdade,

sobre humanos,
jardins suspensos da BABILÓNIA,
sobre enganos,
sobre exemplos que não temos,
conhecimento de nossos ancestrais,
tão vulgar, como os menos, como os mais,
dextros, canhestros, ambidextros,
sobre crise que não existe, sobre paradigma esgotado,
revivendo HISTÓRIA,
sobre dinheiros que nos roubam,
que nos dão,
subjugação ao mais forte,
escravização,

sobre políticos que se esgotam,
contradizem,
xenofobia que detesto, contesto,
rejeito,
imperfeita comiseração
de quem aceita, diz que NÃO,
peca… pede PERDÃO,

sobre gestores, sobre TROIKA que nos impõe,
sobre CONCENTRAÇÃO
que se crê UNIÃO,

sobre EUROPA do desequilíbrio,
sobre encostos,
colaboracionistas,
resistentes passivos ou activistas,
sobre fado, sobre futebol, sobre desdita,
sobre destino,
fazendo da BOLSA, CASINO,
sobre folgança,
diversão do hipócrita, do ladrão,
sobre CONFIANÇA,

resignação do que se não indigna,
cobardia do que se sujeita,
se acomoda,
não se incomoda,
não grita,

dentro, fora da zona de conforto,
sobre morte repentina,
descalabro,
sobre desemprego que aflige,
futuro que se torna menos futuro,
de longínquo,
incerteza que contracena com negrura que nos cobre
sobre penúria do sem abrigo,
sobre fome que enxameia,
sobre descrédito que nos amordaça,
que nos calca,
faz trapaça,

sobre berro mudo,
tão elevado,
tão intenso, tão fundo,
quando contido,
simples murmúrio, quase gemido,
trejeito que amolece,
não engrandece, suspende vida cerceada,
logo à partida,
do fraco,
do suicida,

orgulhoso que não aceita,
se vai extinguindo,
estóico porque permanece,
não esqueceu, não esquece,
vergonha que não suporta,
atrás da sua porta,

casa que já foi sonho,
na barriga vazia,
na descendência que não protege,
na morte silenciosa que se abate,
no leito final, caixa, caixão,
mortalha,
último suspiro que exala,
compaixão,

sopro débil, sem festa,
sem romaria, sem procissão,
sem carinho, satisfação,
no pouco que ainda lhe resta,

revisitar,
lembrando, colorido nas bermas da estrada,
barraca,
andando à nora,
sem escapatória, não vai embora,
grade engendrada com paus,
alguns arames,
verdes que esboçam crescimento,
quadrados, rectângulos,
preâmbulos,
nos pormenores que são lapsos,
esgares escassos,
interjeição num caminho pedregoso,
interrogação permanente,
colosso tão pecaminoso,
vala comum de tanta gente,

um sem fim,
iguais na confecção, restos de cartão,
latão,
paus, arames, cordéis, cordas,
baraços,
quando passas, quando acordas,
quando recordas,
matagal que é sustento,
hortejo, brejo, cadinho,
produção doméstica,
cabaz do despedido, réstia,

embaraços,
mesmo aqui, mesmo ali,
corpo vergado, enxada na mão,
fora do grande centro urbano,
imediação,

campo baldio, empréstimo,
vale de erva daninha,
encosta sem préstimo,
escape, sustento da terra,
suor do rosto,
bem posto,
sem gosto, saída,
retrocesso,
outra via, acesso,

batatas, couves, hortaliças,
alhos, cebolas, favas, feijão,
frutíferas, quanto e quanto limão,
cenouras que são uma beleza,
rama que se reaproveita
na criação de coelhos, galinhas,
ovos na cesta,
abrigo,
recanto, paraíso,
reforço da economia caseira,
desemprego, razia,
ali à beira,
rameira,
pelas circunstâncias,
contraste com RESORT de luxo,
exuberâncias,
quando cavo, quando puxo,
colho,
acondiciono,


com baldes,
poço reactivado,
burro velho,
encabrestado,
palas nos olhos,
sons agudos, incomodativos,
chiadeira nos gonzos,
círculos infindos,
incentivos no lombo da alimária,
palavras fortes,
descarrego,
fúria da vida, perdido,
rendido,
retoma do que tinha esquecido,
desemprego,

alfaias agrícolas do bisavô,
arrecadação,
já gastas,
do passado, quando usadas,
rebrilhando novamente,
uso constante,
escape,
salvação,
saída para quem não gosta de estar parado,
velhos alcatruzes,
remendados,
devidamente ajustados,

cumprindo função,
puxando água,
líquido precioso,
indo abaixo, içando, despejando,
enchendo tanque,
regando,

não, não vou escrever sobre o que nos aflige,
do que se celebra,
da redenção,
da ressurreição,
da salvação do que foi CRISTO,
dos outros homens,
dos outros CRISTOS da terra,
dos que não comem,
dos que desesperam,
dos que morrem,
dos que se marginalizam,
infernizam,
matam, roubam, proscrevem,
encerram,
castigam,
perseguem,

da gente que desespera,
não tem,
na crise que agudiza,
do que já não espera,
do que desiste,
do que se sujeita a esmola
do que perora,
do que lamuria, do que não chora,
do que ora,

do que rejubila,
intermediação,
no milhão que escorre,
no milhão que arrecada,
no que constrói
templo que é casarão,
na migalha que esparge, com comiseração,
no parco exemplo,
da religião que se acomoda,
que se conforta,
que se não importa,
se não desloca,

cerimonial apropriado,
do tempo parado,
da exéquia pascal,
do brando costume,
da resignação,
da tradição,
da pobreza que se instala,
da miséria que denigre,
da populaça que aceita, não rebela,
desvela,
quase chora, quando implora,

não, não vou escrever, descrevendo tanto martírio,
flagelação,
crucificação presente,
entre ladrão, assassino inclemente,
COLGOTA aramaico de antes,
CALVÁRIO milenar, educação, visão penitente,
CAVEIRA que somos,
quando nos pomos,

sofrimento constante,
degradação,
promessa aberrante,
depois da vida, hora da morte,
passagem, longa viagem,
eternidade… nossa sorte???... Sherpas!!!...