quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

... bestiais!!!...

... eram tempos bestiais, os das bestas,
como animais,
atreladas a carros, carretas e carroças, pouco normais,
ruas pejadas de dejectos com que as iam borrifando,
sózinhas, atreladas, andando,
andando,
resfolegando,
quando cansadas,
foram força, foram engenho,
ajuda,
foram portento nas eiras, nas pedrinhas das calçadas,
nos carreiros traçados nos campos,
conduzidas por quem as cavalgava,
carregadas,

lá iam, levavam, traziam sementes, frutas,
sustento,
sacas levantadas por impulso, braços esforçados,
caras sem expressão, curtidas pelo sol, pela chuva,
ao lado das bestas, degrauzito apenas, carreiros,
carreteiros ou carroceiros,

azeitona ou uva, épocas distintas,
lá vinham a caminho dos lagares,
barulho ensurdecedor de ferraduras,
descanso no quintalão,
lavrador de latifúndio, bem anafado, como patrão,
dono das bestas, dos carreiros, carreteiros,
outros tempos,
menos bestais do que actuais,

vidinha dura, fome extrema, cansaço,
força do braço,
força da besta,
uma que outra romaria, um laivo de festa,
penúria que se sentia,
mal o sol luzia,
já posto,
casa humilde que o pressentia,
recolhia,

mulher que vinha da monda, da ceifa,
no campo,
miudagem na rua, sem botas, sem sapatos,
descalços,
jogos dispostos, estratagemas, brinquedos de restos,
esquemas,
no que se apanhava, arame, cortiça, lata vazia,
muita, muita companhia,

empatia com a malta, pedrada no charco, mergulho na ribeira,
pássaros que comiam,
ninhos com ovos, pardais pequeninos,
peixe que se apanhava com artes diversas,
com as mãos nas lapas, por vezes,
éramos senhores, éramos Deuses,
no tempo das bestas,
nada bestiais,

nas resmas de palha, no centro das searas,
nas tocas dos grilos,
na azeitona que sobrava, rabisco,
num abelharuco, numa popa, num pisco,
cotovia saltitante,
liberdade nos campos,
azinheiras com bolota gorda, adocicada,
entrada na horta, fruta bem fresca,
fanada,
gado a pastar, ajuda no campo,
feira que se avizinha,
bota calçada, varapau nas unhas,
caminho do gado, boca que ajuda,

de pais para filhos,
patrões eram patrões, acima das bestas, carreiros ou carreteiros,
quase iguais,
eram filhos, já crescidos, como os pais,
labuta campestre, idade rupestre, poeira na estrada,
torrões que se esboroam com passagem de arado,
força do braço,
força da besta,
descanso, campo lavrado,
bestas ao lado comendo ração,
dejectos no chão,

sombra que convida,
tristeza de vida no tempo das bestas,
com pausa nas festas,
na tasca,
na bebedeira que se toma,
cantiga que se forma,
sorriso imbecilizado,
momento, recado,

filho que vem, sustenta seu pai, condu-lo para casa,
reduto sombrio,
uma cama, uma trempe,
panela de ferro, de barro, ao lume,
feijão que requenta,
míngua tão grande, trabalho esforçado,
tão besta como a besta,
repetição,
tanto no INVERNO, como no VERÃO,

restos pelo lajedo,
gato enrolado,
caçador de ratos,
cão que se tinha, companhia,
ajuda no gado
empedrado da rua, regato ao meio,
sem sonhos,
devaneio,

gaita de beiços, cantigas e danças,
na esquina, no casão,
associação ali perto,
rancho que se forma,
caldo que se entorna,
zanga com navalha reluzente,
com murros e berros, feridas profundas,
vidas tão pobres,
no tempo das bestas,

os menos, com patas, duas ou quatro,
os mais, tão iguais, donos de todas,
fartos,
latifúndios ou feudos, no tempo da lavoura,
imitando obscurantismo medievo,
tal como duque, conde ou barão,
erguendo ceptro, erguendo bastão,
dando, tirando com a mesma mão,
coisinha pouca,
se recorda, não se doura,

no tempo das bestas,
de cima, de baixo,
quando as penso, as encaixo,
por vezes, com festas,
assim as vejo, revejo,
recuso... não desejo!!!... Sherpas!!!...