segunda-feira, 2 de junho de 2008

... acasos!!!...




... contrariedades na vida
que se levam de vencida,
tempo gasto por arrasto,
trabalhos duros, canseiras,
dores, doenças, mortes
de quaisquer, suas sortes,
saltos que damos, fronteiras,
obstáculos que são barreiras,
ânimos que vão cedendo
nos anos que se vão somando,
velhice que não entendo,
quando reparo, vou andando,
feliz com o que vou tendo,
quase nunca me enganando,

não sou pródigo nas farturas,
parco no gesto, na atitude,
encaro males, agruras,
como pequena parte que sou,
onde me encontro, onde estou,
mantenho rara virtude
nesta passagem tão curta,
sorrio, com beatitude,
perante pormenores tão simples,
flor que desponta num canto,
carro original, pintado,
gesto tresloucado de encanto,
menina bonita que flutua
quando passeia na rua,

casa velha de muitos anos,
rua estreita, solarenga,
vasos floridos à janela,
político que fala, arenga,
medalha que se coloca no peito,
parangonas a preceito,
carros blindados, protegidos,
ajuntamento dos escolhidos,
reuniões em monumentos
arranjados, sem defeito,
palavras, mimos, trocadilhos,
pai que acaricia seus filhos,

campos que se abrem a meus olhos,
terras do fim do Mundo,
Lua numa noite escura,
alguns agravos, entolhos,
gato estendido na rua,
buraco escuro, bem fundo,
mal que se tem, não cura,
aceitação da debilidade,
perda vertiginosa, idade,
falhas que sempre tememos
quando nos olhamos, nos vemos,

repentes tão breves, fugazes,
ladrar dum cão que entoa,
briga de mulheres furibundas,
agitado grupo de rapazes,
carro alucinante, veloz,
passagem que atemoriza passante,
águas que jorram dos céus,
poças na rua, imundas,
sarjeta que não engole alimento,
depaupero, incumprimento,
entorno incomodativo, aberrante,
preâmbulo que apequena, instante,

bebé que clama por leite,
mãe atarefada que não cumpre,
batatas fritas em azeite,
cozinha que repica seus sons,
tachos, panelas, pratos, talheres,
pressa de tantas mulheres,
recanto, refúgio, contenda,
luta pela sobrevivência,
lá no alto a excelência,
tão rebolada, contente,
tanto escravo, tanto servente,

notícia que soa na rádio,
televisão que faz estrondo, emoção,
jornal que relata acontecido,
chama que tremelica em pavio,
vela que se gasta, exaustão,
tendo a vida por um fio,
todos mortos, no avião,
escândalo que ecoa nas bocas,
falatório de coisas poucas,
dinheiros que alguém roubou,
quando dirigiu, abusou,
guerras que acalmaram um pouco,
armas que se aprestam, comentam,
na boca de general louco,
amedrontando os que intentam,

pássaro que esvoaça, passa,
ultrapassa nesga da rua,
telhado que se compõe,
dúzias que se encontram por lá
melodia ao desafio,
pia de lá, pia de cá,
tristeza do que dispõe
quando tenta, quando inventa,
vidas dos que muito arriscam
quase sempre não petiscam,
contidos no que se intenta,
pardalitos de pena curta
ao sabor de “filhos da puta,”
por portas travessas, alçados,
reservando seus recados
a parceiros do mesmo lado,
sem temor, sem cuidado,

acasos que me ultrapassam,
distraído com pormenores,
eles gozam, eles passam,
vão ficando bem menores,
consideração que se esvanece,
respeito que se não tem,
tudo se perde, se esquece,
mesmo quem se julga alguém!!!... Sherpas!!!...

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