sexta-feira, 18 de abril de 2008

... só quem não vive!!!... (antiga)




… só quem não vive, quem não ciranda por estas ruas, por estas cidades, por este País, só quem vive arrecadado, muito longe do bulício, do contacto directo com as pessoas, só quem, em condomínios fechados, bem apartados, isolados… em redomas, noutros ambientes, outras gentes, por vontade própria, por teres, por haveres, por quererem… simplesmente, como modo de vida, que se não vive, do Mundo real, tão distantes, tão afastados, por não querem ver, cerrando os olhos, cerrando as mentes, sonhando com uma fantasia tão plena e bela, farta e basta, que se não gasta… que se teima, mantendo uma ilusão, uma utopia, se não apercebe do que se sente, a cada passo, em cada momento, em cada sítio, em qualquer lugar, para nosso mal, quando… num dado instante, não propositado, num calhar, damos com o que é normal, em Portugal!!!...

… estendendo a mão… por norma, pedindo esmola!!!...

… desde casos individuais, bem banais, já corriqueiros, useiros e vezeiros, por drogas, por excessos… fumados, injectados bebidos, quiçá!!!... Degradação humana, último degrau da nossa verticalidade!!!... Mal dos que caem, dos que se deixam atingir, por indução de amigos e companheiros, por festas, por músicas, por emoções, por sensações, simples pisca, experimentação… fruto proibido, moda, gozo, todos sabem como é!!!... Eu, também quero… pois então!!!... Tanto tenho batido e rebatido no assunto que, mais uma vez… os de sempre, lá me vão apelidar do que não sou, de lamúrias, choramingas, cinzentão!!!... Mas, não… podem crer!!!... Não canto o fado da desgraçadinha, como opção, como maneira de estar, por prazer me dar… tão pouco!!!... Quando o faço, tenho motivos que mo levam a fazer, podem crer!!!... Vivo a vida, contacto com as pessoas, dou-me com elas, sou abordado…no meio do bulício, em qualquer lugar, em qualquer sítio, em qualquer canto de qualquer cidade, deste País!!!... Consoante o que vejo, sinto e… escrevo!!!...

… estendendo a mão… por norma, pedindo esmola!!!...

… não procuro, como norma, o que me vem bater à porta!!!... Acontece muitas vezes… tantas, que me resolvi descrever algumas delas!!!... Junto a um supermercado onde costumo fazer compras, quantas vezes não o encontro, homem novo, ainda, mais para o esbranquiçado, de pele, é evidente… alourado, mal trajado, cara avermelhada, de beberrão!!!... Já o tinha visto, já me tinha apercebido que, naquele lugar… sítio de fartura, de alimentos, de compras, de gentes com dinheiro, buscava o que não tinha, uns trocos, alguns alimentos, porventura!!!... Numa das vezes, um dos funcionário do referido local de compras, de vendas… gesticulava com ele, em voz alta, não percebível, pouco audível para mim!!!... Certo é que, pelo que verifiquei, passado algum tempo… o indivíduo em questão, cabisbaixo, afastou-se, de mãos vazias, tal e qual!!!... Passaram-se tempos e, volta que não volta, lá o encontrava, persistente… com o mesmo traje poluído, a pele mais para o avermelhado, alourado, cirandando por ali, junto à porta de entrada, de volta das pessoas que… entravam ou saíam do estabelecimento de comestíveis, um supermercado, como tantos outros!!!...

… estendendo a mão… por norma, pedindo esmola!!!...

… nunca tinha sido abordado por tal elemento, até ontem, inclusive!!!... Hoje, deu-se… mesmo na altura em que estava colocando os sacos de plástico das compras, na bagageira do carro!!!... Medroso, aproximou-se, de mão estendida, com um sorriso tímido até, com um português arrevesado, fazendo o que fazia comigo, com todos os outros… pedindo uma moeda!!!... O seu aspecto de desgraçado, de beberrão, de pouca ou nenhuma verticalidade, de gente apagada… metia dó!!!... Perguntei-lhe, disfarçando o que saltava à vista… se era para meter na veia, ou no estômago!!!... Ele, respondeu-me, com um sorriso imbecilizado, que era para a barriga, claro… numa voz de ucraniano, sem emprego, feito mendigo!!!... Que não tinha trabalho, se eu conhecia alguém que lhe proporcionasse emprego!!!... Agarrei numa moeda e… dei-lhe!!!... Passado um instante, desapareceu!!!... Calculei que o tinha ido transformar em álcool, viciado que estava!!!...

… estendendo a mão… por norma, pedindo esmola!!!...

… quando estou em casa, como gosto de atender bem, quem me bate à porta, como dou a cara, enfrento, oiço, vezes por outras… outros que, com as mãos cheias de papéis imprimidos, com cartões ao peito, com nomes pomposos de organizações, não estatais, relacionadas, quase sempre, com pobrezinhos, criancinhas ou… dependentes de drogas, leves ou duras, indiferente, deambulam de casa em casa, com a conversa de sempre, a de organizações carentes, dessas gentes, das que, por via das circunstâncias, chegaram ao limite, ao último patamar da pobreza, da miséria, da necessidade, segundo eles… pura verdade!!!... Sou solidário, participo, como sócio… sem benefício algum, não tipo Messenas, simples ajuda, umas quotas mensais de algumas instituições da minha terra alentejana, quanto a deficientes, a bombeiros, a cruz vermelha, a clubes de velhotes, lares e quejandos!!!... Pago, com gosto, levo como uma obrigação minha, tal acção participativa… pouca coisa, simples nadas!!!... Sinto-me bem, ajudando!!!... Mas nestes casos de porta a porta, com papéis e cartões colados ao peito, não lhes vejo jeito, rebelo-me e questiono-os, por vezes… dando, outras, negando, apresentando as minhas razões!!!... Ainda, na semana passada… não dei nada, apesar dos argumentos, de peso, que o Estado não lhes dava nada, nem que fosse uma simples moedinha!!!... O rapaz que me bateu à porta, depois da negação… virou-me costas, com alguma indignação!!!...

… estendendo a mão… por norma, pedindo esmola!!!...

… e, podem acreditar no que lhes escrevo, coincidência ou não… no mesmo dia, por volta das duas horas da tarde, quando me desloquei ao centro da cidade, ali ao pé, no centro, junto ao Correio, não é que me tocam no ombro a fim de me chamarem a atenção, quando ia andando, cumprindo as tarefas muito próprias de quem, para mal de quem paga, tem de pagar impostos… por tudo e por nada, ainda mais do objecto que mais nos tira do bolso, o malfadado automóvel, bem precioso, de luxo, com tantas taxas
que… nem quero pensar, chateiam, sobram, avultam, escandalizam, desde o I.A., aos combustíveis, proibitivos, às inspecções periódicas, aos estacionamentos, aos selos, aos acrescentamentos, quanto a IVAS, aos seguros… para não falar da oficina, das peças que se compram, dos pneus que se renovam!!!... Enfim, tal e qual… dirigia-me à secção de finanças do concelho para comprar o selo do carro, quando fui abordado!!!... Parei, virei a cara e… não me pode conter, quando ouvi, da parte de quem ouvi!!!... Palavra de honra, com a sua idade… a pedir, na rua!!!... Então não é ajudado por nenhuma instituição, não tem uma pensão, não tem o rendimento mínimo garantido???... Depois de soltar estas palavras, de ouvir uma lamúria, verdadeira lamúria de quem não tem… arrependi-me, meti a mão ao bolso, agarrei numa moeda de euro e, com uma palmadinha no braço do velhote e disse:

- esqueça, não faça caso, tome lá!!!...

… estendendo a mão… por norma, pedindo esmola!!!...

… não são lamúrias minhas, não são choradinhos imaginados, são factos reais, de todos os dias, tanto por aqui, pelas minhas bandas, cidade de interior, como por outros lados, no litoral, na capital… quando por lá me encontro!!!... Algo não funciona, muita coisa vai mal, cada vez pior… enquanto alguns bananas, politiqueiros de chinelo, se forram, até mais não!!!... Que País, me Deus!!!... Até quando???... Sherpas!!!...

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