domingo, 16 de março de 2008

... olho e vejo!!!...

… quando do embarque, início da viagem,
todos iguais, alguns diferentes,
consoante os pais, consoante as gentes,
numa paixão incontrolada, numa voragem,
num cálculo estudado, minucioso,
de qualquer maneira, sem eira, nem beira,
em leito de luxo, acomodados,
numa valeta qualquer, enlaçados,
num vão duma porta, num escape,
depois dos sacramentos, já casados,
unidos, nos momentos precisos,
fruta da época, com prejuízos,
embarcam na vida, no comboio
que se alonga, que resfolega,
por trajectos diversos, caminhos,
aos que lhes sobra, aos que lhes não chega,
quantos destinos,
com sinos repicados… surdos e mudos, com desatinos!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… se enterra!!!...

… olho, vejo, quando oiço, me revolto,
tanta desigualdade, tanta disparidade,
fosso profundo de que não gosto,
entre a mentira, a verdade,
disfarces que se inventam,
palavras gritadas, amargas,
posições que se tomam,
argumentos com tantas falhas,
habilidades, contorcionismos,
ilusão, no meio da confusão,
coisas graves, grandes abismos,
quanta e quanta atrapalhação,
esquecimentos propositados,
não lhes tocam, ficam aos lados,
enquanto o comboio avança,
aos trancos e barrancos,
uns, enfurecidos, outros… mais mansos,
não convencidos, compungidos,
aguardando aquela mudança,
feita de sonho… esperança!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… se aferra!!!...

… viagem agitada, esta que nos impõem,
destino incerto, tão longe, não perto,
tão distante, pouco transparente,
para os que, alegres e dispostos,
aceitaram os que dispõem,
acreditaram, julgaram certo,
escolha feita, na altura,
multidão, tanta gente,
satisfazendo seus gostos,
passados ultrajantes, mentirosos,
arrogantes, quando nos postos,
apeados por desleixo, por incúria,
tempo de abusos, uma injúria,
oh Pátria de desditosos,
sem governantes capazes,
uns, ferozes, outros… audazes,
quase sempre… incapazes!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… quer guerra!!!...

… ainda continuo na viagem,
por vezes, avisto quadros esplendorosos,
quadros que me fazem sorrir,
quando dizem, quando agem,
aparentemente, contra faltosos,
depois, calam, deixam passar, deixam ir,
não tocam, sequer, no assunto,
alheio-me dos factos, deixo-me embalar,
reles criatura deste Mundo,
pontinho insignificante,
quando, com ele, me confundo,
como qualquer viajante,
absorto, adormecido mas… não morto,
desligado, quase me não importo,
deixo andar, vou andando,
como sempre, pagando… pagando!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… só berra!!!...

… quando comparo, disparo,
não pode ser, é incrível,
o posicionado, bem forrado,
pouco ou nada é tocado,
a multidão anónima, a que escolheu,
mais uma vez perdeu,
o colocado no pedestal.
como dantes, tal e qual,
o que cumpriu, servindo,
não sei o quê, mentindo,
é medalhado, bem compensado,
mordomias mil, sentido de Estado,
continua auferindo em demasia,
toda e qualquer regalia,
sério, quando se mostra,
é um gosto apreciá-lo,
numa posição de estalo,
quando se ri, quando se encosta,
no seu merecido descanso,
enganando o crédulo, o tanso,
sendo hipócrita assumido,
mais para o vendido… para o fingido!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… se enterra!!!...

… misérias deste País,
o tal que se contradiz,
com pequenas ridicularias,
pobrezas em demasia,
promiscuidades, fantasias,
corrupções que se abafam,
quando se não julgam, calam,
viagem alucinante,
comboio dos disparates,
classes distintas, bem distantes,
as de qualquer viajante,
lá no cimo, quase na lua,
solarengos, iluminados,
de mão estendida, na rua,
esquecidos e… desprezados!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… se aferra!!!...

… fazer um pacto de inclusão,
a partir de agora, doutra estação,
o passado foi, deixou de ser,
podem acreditar, é para valer,
comboio em marcha forçada,
viagem paga demais,
de primeira, bem instalada,
toda aquela cambada,
tão diferente, desiguais,
no percurso acidentado,
quando paga o desgraçado,
de recursos bem irrisórios
que se limitam a falatórios,
gritam seus anseios, roucos,
quando agitados, loucos,
desfilam amarguras,
por vidas difíceis, duras,
discrepâncias de espantar,
uns que ganham pouco,
outros… sempre a ganhar!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… quer a guerra!!!...

… no terminal, cabeça assente,
cabelos brancos, sem ilusões,
pára-se um pouco, num repente,
diminuem as paixões,
mais racionais, tal como os menos,
os que foram mais,
já se sentem pequenos,
quiçá, quase iguais,
enterrados ou queimados,
fim daquela viagem,
fim de tanta coragem,
aos que, lá nas alturas, céus infinitos,
decrépitos, apeados,
confessos e confessados,
buscam, procuram,
com rezas, encostos… mais aflitos,
outra viagem, outro início, caminhar de novo,
porque até escondem, até juram,
que são do Povo,
que não mentiram,
que só brincaram… que só fingiram!!!...

… muita terra, pouca terra,
para quem nasce, cresce e… se enterra!!!... Sherpas!!!...




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