domingo, 20 de janeiro de 2008

... quantas vezes nos cruzamos!!!...




… quantas vezes nos cruzamos,
com vizinhos que nos são estranhos,
nos prédios em que vivemos,
dos quais, nada sabemos,
nesta corrida, pela vida,
nesta indiferença sentida,
desapego pelo que nos rodeia,
metidos connosco próprios,
num gesto que nos alheia,
nos afasta, nos alteia,
nos torna egoístas, impróprios,
nas cidades insensíveis,
sem urbanidade alguma!!!...


… gentes e gentes incríveis,
nesta passagem, que se esfuma,
numa rotina doentia,
corrida louca, insensata,
num vaivém constante, apressado,
indo para lá, p´ra qualquer lado,
vindo, não sei de onde,
como culpado, que esconde,
algo que não quer mostrar,
que nos faz desconfiar,
desconfiando, também,
quando cruzamos com alguém,
nas escadas do nosso prédio,
gaiola reduzida, tédio,
refúgio, albergue, couto,
espaço curto… tão pouco!!!...

… conheço de vista, somente,
cumprimento, porque gosto,
num instante, num repente,
esteja bem ou mal disposto,
nas escadas, onde me cruzo,
quando subo, quando desço,
sorrio, pergunto, faço conversa,
provinciano, tonto, néscio,
sem resposta, numa pressa,
desencontramo-nos, logo de seguida,
com gestos de toda a vida,
palavras contidas, parcas,
useiros, vezeiros,
maquinais e rotineiros,
nestes encontros, nestas escarpas,
quando escalamos escadas,
quando descemos, velozes,
metidos connosco, ferozes,
reduzidos nos sentimentos,
não paramos… por momentos!!!...

… ontem, caso estranho,
cumprimentei o vizinho de baixo,
recebi sorriso aberto,
não alargado, cabisbaixo,
palavras, pouco normais,
queixume, confissão, no concreto,
peso interior, necessidade,
lá me disse, pesaroso,
com muita pena e verdade,
no seu estado lastimoso,
que se tinha divorciado,
quedei, deveras… pasmado!!!...

… trocámos algumas palavras,
consolei, aconselhei, fui humano,
parados, naquelas escadas,
acontecimento bem estranho,
onde se não tem um momento,
na corrida, na vertigem,
se abafa o sentimento,
nas coisas que nos atingem,
sem um choro, sem um lamento,
excepção justificada,
pela dor, pelo sofrimento,
do vizinho separado,
perdido no Mundo, desamparado,
em busca de ombro amigo,
no encontro… que teve comigo!!!...

… depois, lá foi correndo, apressado,
para outro local, para outro lado,
fugindo do prédio, como antanho,
vítima ou carrasco, simples humano,
bem mais aliviado,
carregando suas penas, seus remorsos,
depois de ter parado,
naquele vão de escadas,
sem sorriso nos olhos,
duras vidas… separadas,
desentendidas, divorciadas!!!... Sherpas!!!...

Sem comentários: