terça-feira, 25 de dezembro de 2007

... bairro de lata!!!...



... já me imiscuí por paragens dantescas de miséria,
olfactei odores pouco agradáveis,
chusma de excluídos, maleita séria,
vi cenas de pobreza extrema,
passei por barracos feitos de chapa, de latão, de cartão,
cirandei pela sala principal destas gentes,
a rua que os abriga,
doença grave que se não cura, sempre na mesma,
o esgoto que corre bem ao meio,
de fome,
grande barriga,
regato onde brincam crianças quase nuas,
sorridentes com todos os dentes,
cabeças à chuva, ao vento, ao sol,
sociedade desconforme,

apesar da boa intenção,
proferida por quem governa, que afirma,
ridículo encartado,
quando se perfila
perante os que lhe dão relevo,
mavioso enlevo,
qualquer câmara de televisão,
pasquim com tiragem suficiente, orquestração,

homens sentados, velhos, novos,
batendo cartas, pensativos,
trapos que são lavados em águas sujas, ali à porta,
gestos repetitivos,
som que se atira, mais forte, estridente,
chamamento, ameaça,
gritos aflitivos,
lancinante apelo a um Deus que ignora
quem sofre, quem pena, quem chora,

uma risota, uma chalaça,
encolher d´ombros,
aceitação,
passar do tempo naqueles escombros,
ruinhas estreitas, amontoado d´almas,
fumaça que se solta dum braseiro aceso,
sardinha assada, pequeno acervo
para tanta boca à mingua,
saliva na boca, papila que lembra, ponta da língua,
dali emerjo,
afluo,
recuo,

sítios parecidos, favelas que se aglomeram,
pessoas que esperam
quando desesperam,
sorte ou destino que se abate,
fúria que arrasta,
tortura que mata,
chuvada que passa,
rio que engrossa, lençol lamacento que se estende,
submerge o que encontra,
se mostra na montra,
milhares que se apagam,
rostos inexpressivos
mais mortos que vivos,
sombras indefinidas tão desvalidas,

são corpos, são mortos
de fome, plenos de desgraça,
foice que cega, terrífica que... passa,

sempre assim foi, continuará sendo,
não se importando, lá vão,
enquanto, gemendo,
desvalidos se encostam aos montes,
lugares perdidos pelos continentes,
sobras, restos,
horrendos manifestos
duma civilização que se perdoa
quando entoa
oração a preceito, num templo,
evoca ou avoca em seu proveito,
esquecendo defeito,
aquilo que vejo, agora contemplo,

memória que fica,
passagem que marca,
fúria que sinto num bairro de lata!!!... Sherpas!!!...

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