domingo, 9 de dezembro de 2007

... açorda!!!... (antiga)


- Almoço do pobre/sopa de pão, sopa de fome/açorda colorida/cheirosa, magra, sofrida/com um pouquinho de nada/com um pouquinho de tudo/com sabor, sem entrada/num prato raso, sem fundo/uns restos de côdea dura/num alguidar de barro/um azeite de cor escura/água do cântaro de barro/um alhinho de tempero/sal pouco, com esmero/um poejo, para dar cheiro/bem quente, a ferver/que faz soprar e passar tempo/a essa gente que, no sofrer/se cura, a todo o momento/com cantigas lânguidas/chorosas e sofridas/nas fainas duras, custosas/mal pagas, pelos patrões/donos de terras rendosas/de empregados, aos montões/alheios a todas as açordas/com mesas amplas e fartas/com barrigas grandes e gordas/esquecidos das pessoas magras/pobres e esfomeadas!...

...já o A. Aleixo dizia, numa das suas quadras emblemáticas e filosóficas, evidenciando as qualidades nutritivas e saborosas do pão e a grandeza de alma do Povo ao qual me orgulho de pertencer(não é assim, meu caro Marafado???...):
- Gosto de apertar a mão/ dura dos calos que tem/também as côdeas de pão/são duras, mas sabem bem!...
...palavras para quê, nesta açorda simples e vulgar, tão insignificante como eu, se revê todo um povo que, nunca esteve bem, no passado, menos, agora, no presente!!!...Porque será, pergunto a mim próprio, que a desdita nos persegue, a indiferença nos acompanha, a carência é confidente, a miséria uma maldição???... Outro fado cantaria se, em número, fôssemos mais significativos e contássemos para os que, em nós, pouco distinguem e nos ignoram, sistematicamente... Sherpas!!!...

Sem comentários: