terça-feira, 2 de outubro de 2007

... num casebre!!!... (antiga)

...não é novidade, não é surpresa, não é caso único, basta ter os olhos abertos e ver, ver o que se passa ao nosso redor, sentirmo-nos na pele dos que menos têm, sofrer, irmanados, o sofrimento que sentem, o modo como são tratados, a maneira descarada e vergonhosa para que foram atirados, pela vida, pela pouca sorte, pelo destino, pelas circunstâncias, pela sociedade cega e egoísta a que tiveram a pouca sorte de pertencerem, pessoas como nós...independentemente de idades, tenho-os chorado por todo o País, os que se drogam e se matam, os que se marginalizam e se arruinam, os que se excluem e se diminuem, os que, por mais que tentem aprender a usar o anzol, o tal anzol que lhes dão para pescarem, ficam impossibilitados de o fazer porque lhes roubam todos os peixes, de todos os lagos, de todos os rios, de todos os mares...e é vê-los, basta olhar com atenção ao nosso redor, com sangue frio e muita insensibilidade, pois, com insensibilidade, porque nos vamos, quer queiramos ou não, abstraindo dessas situações, fazendo de conta que não vemos ou, achando tudo normal, nesta anormalidade que me espanta, que me apouca, me envergonha, me entristece...mais confuso me fico quando, na miséria mais abjecta e solitária, vejo (como vi!!!...), há pouco, uma pessoa idosa, com poucas defesas, pelo peso dos anos, completamente desprezada, abandonada à sua pouca sorte, vegetando num local degradante, sem o mínimo de condições para um cão, quanto mais para um ser humano... como vi:
Quando por ali passo/na baía, no local/numa nesga de pouco espaço/tugúrio dum animal/numa amostra de habitação/no casario daquela terra/junto à estrada, como um cão/só com porta, sem janela/vislumbro a silhueta/dum idoso, já agastado/que, pela meia porta, espreita/o movimento, ali ao lado/antes de ir à deita/numa enxerga, apertado/naquele cubículo, naquele canto/sozinho e escorraçado/olhos secos, sem pranto/numa casota, como um cão/com os trastes ali à porta/naquele pequeno chão/onde dorme e não se importa/com o Mundo que o defronta/com a vil e baixa afronta/a que se está sujeitando/pobre velho rejeitado...o tempo vai-se passando/ali perto, mesmo ao lado/da casota de pouco espaço/que eu vejo, quando passo/com a silhueta agastada/duma pessoa, já cansada/na meia porta que se cerra/bem no centro desta terra/freguesia que se anela/junto à estrada, na baía/durante a noite, em pleno dia!...
...durante bastante tempo a situação foi-se arrastando até que, um dia, alguém com poderes na povoação, alertado para este triste cromo português, mais um entre tantos e tantos, resolveu o problema e, certamente, proporcionou melhor aconchego a esta pobre alma de Deus que me atormentava, quando passava, a mim e a tantos que o viram e o choraram, quando passavam, vulgares e anónimos cidadãos, insignificantes, que se perguntam, se interrogam sobre a necessidade(???...) de termos um governo que se não preocupa com estes casos, tantos e tantos casos, por esse País fora, um governo insensível, um governo que diz dar canas e ensinar a pescar, que diz não dar esmolas, não dar dinheiro a quem dele precisa, um governo que faz contas e mais contas, que gasta onde não deve, (demais!!!...), que se preocupa pouco com os que diz governar, que se não pergunta, a ele próprio, se certas pessoas a quem dá anzóis e canas terão idade, forças, saúde, capacidade, para pescarem...realmente, muitas das vezes, quer queiramos ou não, temos, forçosamente, de nos portarmos como autênticos choramingas, não é???...Só os que não sentem, não choram e...chorar, é próprio dos homens e...das mulheres!!!...


.... Sherpas!!!...

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